26 out, 2021 - 14:01 • João Cunha
Primeiro era para ser pública, mas, percebendo os protestos em preparação por parte da comunidade brasileira em Portugal, a palestra em que participou, esta terça-feira de manhã, Marcelo Queiroga, o ministro brasileiro da Saúde, passou apenas a estar disponivel "online".
Sem direito a perguntas, sobretudo de jornalistas, que, a pedido da Embaixada do Brasil, como assegurou à Renascença fonte da própria faculdade, não tiveram acesso à aula magna da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, onde a palestra decorreu. Nem foram autorizados a permanecer junto à entrada do edificio.
Estes são factos que contradizem, em larga medida, a garantia deixada pelo diretor da Faculdade de Medicina, na abertura da palestra. Depois de lembrar que o Brasil é um pais amigo e que ele próprio é amigo de Queiroga, Fausto Pinto referiu que "a Universidade é um espaço aberto, de livre pensamento e de liberdade e onde temos sempre como objectivo ouvirmo-nos uns aos outros".
À porta do Hospital de Santa Maria, onde se encontra a Faculdade, Stefani Costa - uma das manifestantes - lembrava a justificação dada pela Faculdade para o convite ao ministro.
Referiram que "o Brasil é um pais amigo e que o Queiroga foi convidado como um respeitado cardiologista. Nunca foi. Simplesmente é um capacho do Bolsonaro", diz, irritada. "Ele está ali porque aceita fazer tudo o que o Bolsonaro pede. Basta ver que outros ministros com posturas mais à direita desistiram, porque consideraram que tudo tem um limite".
Elisangela Rocha pegava num microfone ligado a uma coluna e deixava uma pergunta aos cerca de 50 compatriotas que com ela protestavam.
"O que é que esse ministro vem ensinar? Que aula é que esse ministro veio dar? Foi a aula de como o governo fez vistas grossas e inclusive apoiou experiências com idosos no Brasil? Esse ministro foi indiciado por crime de pandemia. Isso é muito grave", argumenta.
Marcelo Queiroga, que chegou mais de uma hora mais cedo do que o previsto, para fugir aos protestos, lá discursou.
"Mais de 20 milhões foram atingidos e houve mais de 600 mil óbitos. E é sempre uma oportunidade para nos solidarizar-mos com aqueles que sofrem com a perda dos seus entes queridos", referiu Queiroga.
Depois, puxou dos galões e lembrou os resultados recentes da campanha de vacinação contra a Covid, lembrando que desde que tomou posse, há sete meses, "houve uma redução de 90% dos casos e de 90% dos óbitos", em resultado da campanha de vacinação contra a Covid-19.
Uma campanha que prossegue e que, graças aos mais de 500 milhões de vacinas disponiveis, vai permitir atingir o que Queiroga diz ser o objetivo de sempre: "até ao final do ano, toda a população brasileira estará vacinada com duas doses".
Marcelo Queiroga é um dos visados pela investigação da comissão parlamentar de inquérito que ao longo dos últimos meses avaliou as falhas e omissões do Governo brasileiro na gestão da pandemia, havendo a recomendação para que seja indiciado por dois crimes - prevaricação e epidemia com resultado de morte, sendo que neste último a moldura penal varia entre os quatro e os 15 anos de prisão, consoante se prove ou não a intenção de provocar a morte.