28 out, 2021 - 19:29 • Sérgio Costa , Pedro Mesquita
O presidente da Associação de Médicos Católicos considera que a "urgência" de agendar a votação da lei da eutanásia para 4 de novembro revela "desespero em aprovar a medida na 25.ª hora".
À Renascença, José Diogo Ferreira Martins admite estar "profundamente surpreendido e muito triste" com esta decisão.
"As prioridades dos deputados não têm a ver, verdadeiramente, com os problemas reais do país e existe um taticismo político que se sobrepõe aos interesses dos portugueses", critica.
Já a especialista em bioética Ana Sofia Carvalho vê com "estupefacção" a decisão de agendar a votação da lei da eutanásia para dia 4 de novembro.
"Todos os dias somos surpreendidos com novidades que nos deixam apavorados. Como é que tudo pode ser motivo para aprovar uma coisa destas?", critica, ouvida pela Renascença.
A especialista que já integrou o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida diz que este agendamento é "particularmente significativo, quando sabemos o tsunami a nível de saúde que vamos viver nesta era pós-Covid".
"Sabemos que os doentes não Covid foram alvos de uma injustiça e que o número de cormobilidades associadas aos doentes que ficaram sem acompanhamento é gritante", afirma.
"O Governo, consciente disso, tinha no OE um aumento de 700 milhões para a Saúde, que não foi aprovado. Parece que, já que não nos podem dar tratamento, querem dar a hipótese de pedir para morrer", acrescenta.
Ana Sofia Carvalho aponta que o próprio Presidente da República teve "um conjunto de dificuldades irresolúveis", relativamente à primeira proposta aprovada pelo Parlamento.
"Os próprios médicos consideram que alguns conceitos são indetermináveis e não creio que foram ouvidos na reformulação desta nova proposta", conta.
"Parece-me insultuoso e imprudente tentar definir estes conceitos e podíamos já ter um plano em marcha para ajudar as pessoas a viver e a morrer melhor, em vez de estarmos a debruçar-nos sobre temas fraturantes", conclui.