05 nov, 2021 - 20:05 • Pedro Mesquita , Sérgio Costa , Sofia Freitas Moreira , Ana Catarina André
O mundo procura garantir em Glasgow entendimentos que permitam combater as alterações climáticas e o aquecimento do planeta.
O tema em debate esta sexta-feira, na COP26, é a proteção dos oceanos e, na opinião do ministro do Mar, há um sinal de que, nesse domínio, os acordos da Cimeira do Clima estarão aquém do que seria necessário.
Em declarações à Renascença, Ricardo Serrão Santos sublinha que são necessários mais progressos, defendendo que há ainda um grande caminho a levar para a frente para se atingirem as metas que existem para a proteção dos oceanos.
“É conhecido o papel grande dos oceanos, mas não está suficientemente refletido como não ficou já em 2015. O progresso tem sido relativamente fraco, no sentido da relevância que se dá aos acordos que se fazem nestas COPs”, referiu o ministro.
Entretanto, esta semana, mais de 100 países, incluindo Portugal, prometeram reduzir as emissões de metano em 30% até 2030, e também já houve um compromisso de 40 países que pretendem diminuir a dependência do carvão.
Neste campo, o otimismo é muito moderado, porque a promessa de diminuir a dependência do carvão - alcançado à margem da COP26 - deixa de fora países como os Estados Unidos, a China e a India.
Também entrevistado a partir de Glasgow pela Renascença, Jorge Moreira da Silva, diretor para o Desenvolvimento e Cooperação da OCDE, identifica uma incongruência entre as metas fixadas em Paris, no papel, e a realidade.
“Nós temos o Acordo de Paris que aponta para a necessidade de reduzir as emissões e atingir a neutralidade carbónica até 2050, de forma a termos a temperatura limitada a 1.5ºC, mas depois olhamos para os projetos que estão previstos de financiamento ao carvão na próxima década, e eles são 300% superior àquilo que é a trajetória consistente com 1.5ºC”, aponta Moreira da Silva.
O social-democrata considera importante traduzir essas metas para o contexto nacional, embora esta seja uma questão que o preocupa. “Há uma incongruência entre aquilo que foi fixado em Paris e depois em termos práticos o somatório das metas que os países apresentaram e que apontam para um aumento da temperatura de 2.7ºC, portanto o Acordo de Paris não está a ser cumprido.”
“Olhamos para a falta de solidariedade internacional e percebemos que estamos metidos num grande problema. Os países em vias de desenvolvimento são os países onde as emissões cresceram mais depressa, mas não conseguem reduzir as emissões se não houver um reforço muito significativo de financiamento”, aponta.
De acordo com Jorge Moreira da Silva, o compromisso de 2009, de financiamento público aos países em desenvolvimento, poderia atingir 100 mil milhões de dólares por ano, tendo ficado pelos 80 milhões.
Questionado sobre as soluções existente para travar as energias fósseis sem criar uma crise de desemprego, Moreira da Silva diz ser evidente que uma revolução energética gera vencedores e vencidos. “É aí que as políticas nacionais são essenciais para, na formulação das opções energéticas e ambientais, se associarem apoios sociais para os cidadãos mais vulneráveis. Esse é um grande debate”, finaliza.
A COP26 decorre seis anos após o Acordo de Paris, que estabeleceu como meta limitar o aumento da temperatura média global do planeta a entre 1,5 e 2 graus celsius acima dos valores da época pré-industrial.
Apesar dos compromissos assumidos, as concentrações de gases com efeito de estufa atingiram níveis recorde em 2020, mesmo com a desaceleração económica provocada pela pandemia de Covid-19, segundo a ONU, que estima que, ao atual ritmo de emissões, as temperaturas serão no final do século superiores em 2,7 ºC.