10 nov, 2021 - 07:27 • Teresa Paula Costa
Seis meses depois de ter recebido a vacina contra a Covid-19, nove em cada dez pessoas mantêm imunidade celular contra o novo coronavírus. Ou seja, mesmo que os anticorpos tenham diminuído, as chamadas células de memória preservaram a proteção contra o SARS-CoV-2. A conclusão é de um estudo feito no Centro Hospitalar do Médio Tejo e que é vai apresentado, esta quarta-feira, em Espanha.
Este estudo, desenvolvido pelo Serviço de Patologia, abrangeu dois mil funcionários desde janeiro que tomaram as duas doses da vacina da Pfizer. Concluiu que, com a inoculação, as células memorizam a informação necessária que lhes permitirá combater o vírus e evitar a doença.
O que é a imunidade celular? É a capacidade de as células memorizarem a informação que lhes permitirá, em contacto real com o vírus, desencadear mecanismos de produção de anticorpos e combate ao agente invasivo, evitando assim, as manifestações mais graves da doença.
Segundo Carlos Cortes, diretor do Serviço de Patologia, o estudo permitiu identificar que “cerca de nove em dez pessoas tem imunidade celular”. Isto significa que “o organismo dessa pessoa tem memória para o vírus e que, em contacto com o ele, as células desencadeiam logo uma série de mecanismos, nomeadamente, a produção dos anticorpos circulantes que vão atuar”. Além disso, “vão produzir umas substâncias e vão ativar outras células.”
O estudo foi desenvolvido depois de os especialistas envolvidos terem detetado uma queda acentuada da imunidade humoral (processo de defesa do organismo em que atuam os anticorpos) nos funcionários vacinados.
Carlos Cortes contou à Renascença que “um mês após a vacinação, atingiu-se um pico de concentração de anticorpos protetores, mas esta foi descendo muito rapidamente”. Foi uma queda de 92%, que os especialistas consideraram “uma descida extremamente preocupante”, seis meses após a inoculação.
Apesar disso, as taxas de infeção diminuíram, o que surpreendeu a equipa. “Se antes da vacinação, na nossa instituição tínhamos registado à volta de 320 funcionários infetados, depois da vacinação, só quatro tinham estado infetados”.
Isso levou a equipa a ponderar a hipótese de haver outro mecanismo a defender o organismo das pessoas vacinadas. Era a chamada imunidade celular, que este estudo vem comprovar que é estimulada com a vacina.
Há necessidade de uma terceira dose? Questionado se esta investigação demonstra a necessidade de um terceiro reforço, Carlos Cortes não quis comprometer-se, mas afirmou que “antes mesmo que estes estudos fossem feitos, já foram tomadas decisões”. No entanto, garantiu que “uma terceira dose não vai fazer mal. Vai estimular e reforçar esta imunidade”, sublinhou.
Carlos Cortes já se reuniu com o Instituto Nacional Ricardo Jorge (INSA) que, em breve, irá analisar os resultados, que serão também enviados para a Direção Geral de Saúde.
O estudo é apresentado no Congresso Mundial da Federação Médica que decorre em Barcelona, Espanha.
A investigação continua? Ainda durante o mês de novembro vão ser conhecidos os resultados nos idosos residentes em lares, sendo que o objetivo é também analisar o efeito da vacina nas pessoas que contraíram a doença.
A Covid-19 provocou pelo menos 5.053.909 mortes em todo o mundo, entre mais de 250,23 milhões infeções pelo novo coronavírus registadas desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.
Em Portugal, desde março de 2020, morreram 18.217 pessoas e foram contabilizados 1.099.307 casos de infeção, segundo dados da Direção-Geral da Saúde.