Siga-nos no Whatsapp
A+ / A-

Reportagem

O teletrabalho que está a repovoar o interior e as ilhas. E os "Migrantes 2.0"

15 nov, 2021 - 17:58 • Pedro Mesquita

Onde fica a empresa que o contratou? Há cada vez mais portugueses a responder: "O que é que isso interessa?"

A+ / A-

O teletrabalho que está a repovoar o interior e as ilhas. E os "Migrantes 2.0": Trabalham no estrangeiro mas vivem em Portugal.

Onde fica a empresa que o contratou? Há cada vez mais portugueses a responder: "O que é que isso interessa?"

A internet garante o teletransporte, sobretudo nas áreas tecnológicas, como é o caso da "7 Graus", uma "publisher" - uma produtora de conteúdos para todo o mundo, a partir de Portugal.

"Estamos localizados em Matosinhos, mas a localização deixou de ser relevante porque temos pessoas a trabalhar em vários pontos do país", explica Rui Marques, o CEO da empresa, que também não precisa de saber onde mora o funcionário.

A "7 graus" tem escritórios, mas só lá vai quem quer: "É opção de qualquer colaborador. Se quiser trabalhar remotamente, pode ser, mas se preferir trabalhar nos escritórios da empresa, também pode".

Leonardo Oliveira é um dos funcionários desta empresa e mal conhece a "casa-mãe". Foi "telecontratado" no inicio do ano para teletrabalhar, a partir do Funchal. "Estou na empresa há sete ou oito meses e só fui uma vez aos escritórios, em Matosinhos", conta.

Já André Alves é o exemplo de um regresso a casa, sem perder o emprego: "Eu estava a viver no Porto há cerca de seis anos, desde que tive uma oportunidade de trabalho na '7 Graus', e, a partir do momento em que começou a pandemia, tomei a decisão de voltar à minha terra-natal, que é Tomar, e agora estou aqui muito bem, com um estilo de vida diferente da que tinha na rotina diária de uma grande cidade, como é o Porto."

A pandemia devolveu André a Tomar, que já decidiu não voltar ao norte. É só vantagens: "Melhor qualidade de vida, perto da família e a um menor custo também", enumera.

André não está sozinho nesta aposta, longe disso. Há muito que Tomar não assistia a tantos regressos: "Eu consigo dar-lhe um exemplo muito prático, desta cidade do interior: muitas pessoas tinham deixado Tomar para trabalhar fora, em grandes centros como Lisboa ou Porto. O que acontece é que muitas dessas pessoas estão a voltar porque conseguem trabalhar de qualquer lado. Tu podes trabalhar a partir de qualquer ponto para uma grande cidade...até mesmo para Londres ou Paris, que têm salários muito mais elevados do que em Portugal."

E esses são os "Migrantes 2.0", os que trabalham no estrageiro sem ter sair de casa, em Portugal. Não se pense que é coisa do futuro, ficção. Já entramos na era das "migrações digitais", sublinha o CEO da "7 Graus": "Isso já é uma realidade. Não é uma coisa que, se calhar vai acontecer...não. A emigração digital já é uma realidade, hoje em dia. Principalmente nas áreas tecnológicas", afiança.

Mas isto também tem custos, para as empresas tecnológicas, onde a concorrência é feroz. O que se ganha lá fora passou a ser relevante, para Rui Marques, na hora de pagar, cá dentro, pagar salários: "Neste momento, não há qualquer tipo de vantagem financeira. Pelo contrário, esta questão do trabalho remoto trouxe uma desvantagem financeira porque da mesma forma que podemos contratar pessoas onde, à partida, os salários médios serão mais baixos, também há empresas estrangeiras a contratar em Portugal. Ou seja, nós tivemos que que aumentar salários aos nossos colaboradores por causa da concorrência de empresas estrangeiras."

Tópicos
Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Bruno
    15 nov, 2021 aqui 22:07
    Ae soubesse o que sei hoje, também teria optado por uma profissão que me permitisse trabalhar a partir de casa. Falta de visão/sorte/orientação ditaram que tenha de desempenhar um trabalho como se fazia no sec. XIX: trabalhar no local de trabalho.

Destaques V+