22 nov, 2021 - 12:30 • Joana Gonçalves
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O presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), Nuno Jacinto, diz-se preocupado com o inverno que se avizinha e defende que a escolha dos centros de vacinação para a administração da vacina contra a gripe deveria ter sido alvo de uma avaliação que “tivesse em conta a realidade de cada local”.
“Infelizmente, nestes processos, os profissionais que estão no terreno quase nunca são ouvidos e a nossa opinião não é valorizada. Depois acontecem situações como o sobreagendamento, falta de vacinas, dificuldades de gestão, atrasos”, refere Nuno Jacinto à Renascença.
Este ano, a administração das vacinas contra a gripe decorre em centros de vacinação, mediante agendamento ou em regime de casa aberta, para utentes com 75 anos ou mais, e não nos centros de saúde, como habitualmente. Para o médico “é normal que haja dificuldades neste processo, mas o que temos que perceber é que os centros de saúde já fazem a vacinação da gripe há muito muito tempo e as coisas sempre correram de forma muito positiva”.
Portugal ultrapassou, no domingo, a barreira de 1,5 milhões de doses administradas da vacina contra a gripe, um valor em linha com o registado no ano passado. O dirigente da APMGF reconhece que nas últimas semanas foi possível recuperar o atraso da vacinação, mas lembra que “esta evolução positiva implica uma grande sobrecarga de trabalho de todos os que estão neste processo”.
“Os recursos humanos continuam a ser reduzidos. O encerramento de centros de vacinação nalguns locais implicou apenas a transferência de sítio. Ou seja, a vacinação passou de um sítio para outro, mas a vacinação continuou a ser feita por nós, nomeadamente a dose de reforço da Covid-19”, aponta.
"Não temos capacidade de resposta. Não dá, não conseguimos responder a tudo ao mesmo tempo e, desde há muito, que dizemos que é preciso um reforço de recursos humanos e que precisamos de equipas dedicadas a muitas destas situações, sob pena de comprometermos irremediavelmente os cuidados aos nossos outros utentes", alerta o médico.
Já no passado sábado, o secretário de Estado Adjunto e da Saúde confirmou que haverá mais meios para a administração destas doses, através da "cooperação intensa com o Ministério da Defesa e as Forças Armadas", além do Ministério da Saúde e dos seus organismos.
"Temos de reprogramar e voltar a planear, quer do ponto de vista da logística, quer do ponto de vista dos recursos e do planeamento, porque é mais do dobro dos elegíveis. E é isso que vamos fazer com o Núcleo de Coordenação [do processo de vacinação] e com as autarquias", referiu.
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O presidente da APMGF antevê, agora, um aumento da pressão hospitalar e adianta que, a confirmar-se um crescimento no número de casos de Covid-19, “vai ser mais difícil aceder a respostas de doença aguda nos centros de saúde e isso vai ter consequências nos hospitais a nível das urgências, das enfermarias”.
“O inverno é sempre uma situação crítica. Vamos ver como corre, mas obviamente que estamos preocupados. Continuamos com a vigilância telefónica praticamente diária dos utentes covid positivos, suspeitos ou sintomáticos. Quanto mais doentes tivermos, respiratórios e com sintomatologia compatível com a Covid-19, mais essa sobrecarga burocrática se acentua e daí a nossa preocupação com o inverno que se avizinha”, explica.
Para o especialista é fundamental que os profissionais de saúde recebam “orientações claras” e percebam “exatamente o que é preciso fazer em cada momento”.
"Não podemos receber instruções, repentinamente, a dizer «agora vão estar a trabalhar ao fim de semana e em horas extraordinárias e é assim porque tem que ser». Não é propriamente justo para profissionais que trabalham de forma quase ininterrupta há mais de um ano. Não é assim que se gerem recursos humanos. As equipas estão muito cansadas e precisamos de um plano, pelo menos, a médio prazo para conseguirmos organizar o nosso trabalho", acrescentou.