25 nov, 2021 - 13:00 • João Cunha
Está por todo o lado. É prático, leve, barato, versátil e útil. Só que é muito poluente. Para diminuir os impactos do plástico, mais de uma centena de empresas, associações, universidades e o próprio Governo comprometeram-se com a visão e os objetivos do Pacto Português para os Plásticos, que quer transitar para uma economia circular, onde o plástico passa de uma ameaça ambiental para um recurso valioso dentro da economia.
O primeiro relatório foi conhecido esta quinta-feira e os resultados são positivos, apesar de o plástico no mercado ter aumentado.
O caminho faz-se caminhando. E o primeiro passo da caminhada - longa - já foi dado. Ainda que seja mais um passinho, do que um passo.
Em 2020, as empresas que fazem parte do Pacto Português para os Plásticos colocaram no mercado qualquer coisa como 91.520 toneladas de embalagens de plástico. Foram mais 1.256 toneladas face ao verificado em 2019, muito em parte devido à entrada no mercado nacional de uma nova rede de supermercados. Essas 1.256 toneladas que representam 20 por cento do total das embalagens de plástico no mercado.
Ainda assim, o tal primeiro passo está dado. O Pacto Português para os Plásticos apresentou o primeiro Relatório de Progresso da iniciativa, entre os anos de 2019 e 2020 e em que os seus mais de cem membros apresentam os resultados para alcançar as metas estabelecidas para 2025.
Através de uma transição para uma economia circular, comprometem-se a concretizar um conjunto de cinco metas que admitem ser ambiciosas, como eliminar os plásticos de uso único, através do redesenho, inovação ou modelos de entrega que permitam a sua reutilização a 100%. Outro objetivo é aumentar a recolha e reciclagem de plásticos, de forma que 70% ou mais das embalagens plásticas sejam de facto recicladas. Incorporar em média 30% de plástico reciclado nas novas embalagens plásticas e promover atividades de sensibilização e educação junto dos consumidores é outra das medidas previstas.
Em alguns dos casos, "já estamos acima, em 2020, do que tínhamos assumido para 2021. E noutros casos, estamos muito próximos de atingir esta meta", sublinha Pedro São Simão, coordenador do Pacto Português para os Plásticos.
Mas vamos a dados deste relatório, que apresenta os resultados das ações, individuais e coletivas, para alcançar as referidas metas.
Os plásticos de uso único representam menos de 4% do total de embalagens de plástico colocadas no mercado pelos membros desta iniciativa. Mas já estão a ser estudadas ações para acelerar o ritmo de eliminação dos plásticos de uso único problemáticos.
Quanto á segunda meta - atingir 100% de embalagens de plástico reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis - 7% das embalagens utilizadas pelas empresas aderentes ao Pacto já são reutilizáveis.
Um valor assinalável, segundo Pedro São Simão, já que "o número global é de 1,6 por cento de reutilização de embalagens de plástico". Quanto aos 7 por cento atingidos, é "francamente bom para um começo" e que segundo o coordenador deste pacto, "é um valor que nós todos observamos, em primeiro lugar enquanto consumidores. Quando vamos ao supermercado e podemos reencher um garrafão de água ou podemos comprar uma recarga para abastecer a nossa embalagem de detergentes".
De referir que 69% por cento dos plásticos considerados problemáticos e/ou desnecessários são embalagens não detetáveis nos sistemas de triagem atualmente existentes.
A taxa de reciclagem, em 2019, atingiu 36%, exigindo de toda a cadeia de valor - incluindo os consumidores - um reforço de medidas para aumentar a reciclagem, com vista a alcançar a meta de 70% ou mais das embalagens plásticas sejam efetivamente recicladas em 2025. A terceira meta.
No que diz respeito às embalagens colocadas no mercado pelos membros do Pacto Português para os Plásticos incorporaram em média, 30% de plástico reciclado - a quarta meta estabelecida para 2025 - o relatório demonstra que estas já incorporavam em média, no ano passado, 10% de plástico reciclado.
Pedro São Simão admite que ainda há muito a fazer. E a sensibilização e educação é uma aposta que tem de continuar. No próximo ano, haverá mais projetos. "Um focado na reciclagem do plástico, um projeto educativo, focado no ensino aos mais pequenos como evitar o desperdício e o descartável, de plástico e de todos os outros materiais".
Ainda há muito a fazer, garante o coordenador deste pacto. Mas atenção que o ónus não está todo na sensibilização do consumidor.
"Toda a cadeia de valor tem de se mobilizar para fazer esta transição: empresas, o próprio governo, as ONG´s, as Universidades, as associações sectoriais e os municípios... todos os agentes envolvidos e o consumidor têm de estar unidos nos esforços para podermos concretizar esta transição".
Uma transição para uma economia circular, atraente, que deixa cair o modelo até agora utilizado e que se resume a três palavras: extrair, produzir e desperdiçar. Porque esse modelo, ultrapassado, está a atingir os seus limites físicos.
O Plano de Recuperação e Resiliência de Portugal destina verbas para a dinamização de agendas para a industrialização, num total de 558 milhões de euros. O objetivo é potenciar e estimular o crescimento e inovação na área industrial. No caso específico do Pacto Português para os Plásticos, os seus responsáveis admitem que serão uma oportunidade para acelerar a transição da indústria portuguesa, ligada à cadeia de valor dos plásticos, para modelos de negócio mais inovadores e sustentáveis e, assim, atingir as metas estabelecidas para de 2025.
O Pacto Português para os Plásticos é liderado pela Associação Smart Waste Portugal, que pertence à Plastics Pact Network a uma outra iniciativa da Fundação Ellen MacArthur, denominada New Plastics Economy. Esta une doze iniciativas similares em diferentes geografias do globo, mas alinhadas por uma visão comum: garantir uma economia circular para os plásticos, onde estes nunca se convertem em resíduos ou poluição.