29 nov, 2021 - 20:23 • Inês Rocha
Miguel Castanho, investigador do Instituto de Medicina Molecular, apela à calma da população em relação ao surgimento da variante Ómicron do coronavírus em Portugal. O especialista lembra que ainda não é possível tirar conclusões sobre a gravidade da doença provocada pela nova variante vinda da África do Sul, pelo que não vale a pena “sofrer por antecipação”.
“Acho que as pessoas não devem sofrer de ansiedade nem de sofrimento por antecipação porque está tudo em aberto, não sabemos o que vai acontecer e, o que quer que aconteça, não será diferente de outros períodos por onde já passamos”, considerou o investigador, em entrevista à Renascença.
O Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) anunciou ter detetado 13 casos positivos da variante Ómicron, da Covid-19, em Portugal. Todas as infeções dizem respeito a elementos do Belenenses SAD.
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O investigador do INSA João Paulo Gomes adiantou à Lusa que não há mais casos suspeitos em investigação.
Miguel Castanho diz que, tendo em conta o número reduzido de casos identificados, é “relativamente simples controlar as cadeias de contágio”, pelo que “não há razões para que a estirpe tenha entrado por outra via que não seja de pessoas que vieram daquela zona do globo”.
Preocupante? Só no sentido “de levantar a precaução e a cautela
O professor catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa compara o surgimento da nova variante com outros “sustos” que não se consumaram, como o da variante Delta Plus. “Felizmente não se confirmou nenhum perigo adicional, e até lhe chamamos Delta Plus porque tinha mais mutações que a Delta”.
O mesmo aconteceu com a variante Lambda, do Peru, que “acabou por não se impor”.
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Miguel Castanho explica que “temos de aguardar para ver” como irão reagir à doença os casos infetados com a nova estirpe. “Não saberemos até que essas pessoas desenvolvam a doença e nós consigamos observar e deduzir sobre o que está a acontecer com essas pessoas”, diz.
Para já, a única convicção forte dos investigadores, com base em “observação empírica”, é de que a variante Ómicron “será mais transmissível”, o que não quer dizer que cause doença mais grave.
“Sabemos que há mutações ali no ponto onde se ligam os anticorpos em que eventualmente pode haver alguma perda de efetividade das vacinas, mas não sabemos exatamente se assim acontece ou, acontecendo, qual é essa perda de efetividade”, explica. “Mas até sabemos que, para doença grave e hospitalização, as vacinas são bastante eficazes”, lembra. “Portanto, se tiverem uma perda gradual e pequena de efetividade isso não é dramático”.
Sobre a declaração da Organização Mundial de Saúde (OMS), que no final da semana passada considerou esta variante “preocupante”, e já esta segunda-feira afirmou que o risco é “muito elevado”, Miguel Castanho desvaloriza, dizendo que apenas é preocupante no sentido de “de levantar a precaução e a cautela”.
“Devemos ser cautelosos, como é óbvio, mas não é preocupante no sentido de que tenhamos a certeza que vem aí algo pior”, clarifica.