06 dez, 2021 - 16:47 • Rosário Silva
A reitora da Universidade de Évora (UÉ), instituição que se prepara para acolher estudantes afegãs, considera fundamental uma maior intervenção da comunidade internacional na situação dos refugiados, que classifica de “quase vergonhoso para a Humanidade”.
“Penso que a comunidade internacional e os países ditos desenvolvidos ou mesmo o ecossistema europeu, temos que pensar muito neste assunto”, defende Ana Costa Freitas, no dia em que as Nações Unidas homenageiam Jorge Sampaio. O ex-Presidente da República, recorde-se, criou em 2013, a Plataforma Global para Estudantes Sírios, permitindo a muitos jovens prosseguir os seus estudos em Portugal, interrompidos por causa da guerra civil.
“As imagens que nós vemos, o desalento das pessoas, as condições em que chegam, atravessam, estão, esperam, é qualquer coisa, quase que vergonhoso para a Humanidade de uma forma geral”, sublinha a responsável pela academia alentejana, reconhecendo, porém, a dificuldade em resolver o problema. “Não é a coisa mais fácil do mundo, mas tem que haver uma solução”, diz.
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A UÉ foi uma das instituições de ensino superior que acolheu, em 2016, vários estudantes sírios, através da plataforma criada por Jorge Sampaio.
“É uma luzinha no meio deste tenebroso assunto que têm a ver com os refugiados”, considera. “Permitir a estas pessoas, que de repente viram a vida virada ao contrário, poder continuar os seus estudos e depois serem inseridas diretamente na comunidade, é muito importante”, admite Ana Costa Freitas que considera fundamental dar continuidade a este trabalho.
“Eu via com muitos bons olhos que continuasse, evidentemente sem a vontade e a força do Dr. Jorge Sampaio, mas é um trabalho que deve ser continuado e se for a nível internacional, ainda mais”, aponta.
A Universidade de Évora prepara-se agora para acolher estudantes provenientes do Afeganistão, estando a tratar de questões como o alojamento nas suas residências universitárias, de acordo com a disponibilidade. São "três ou quatro estudantes" que chegam a meio do ano letivo, por isso a preocupação passa pela aprendizagem da lingua e só depois, então, iniciam os estudos académicos. É um processo que demora o seu tempo, mas que está a decorrer a bom ritmo, tendo em conta a experiência da insitutição. Para a reitora, a experiência de acolhimento tem sido muito positiva, quer para os estudantes estrangeiros, quer para a própria comunidade académica.
“Eles têm, naturalmente, as suas dificuldades de integração, estamos de falar de culturas e regiões muito diferentes, mas nós não temos resistência da nossa comunidade académica”, assegura, o que tem feito desta experiência, “uma experiência muito positiva para todos”.
A UÉ é, de resto, a academia em Portugal que mais recebe estudantes estrangeiros (20%), seguindo-se a Universidade NOVA de Lisboa (19,4%) e a Universidade do Algarve (19%), de acordo com um estudo desenvolvido pela Universities Portugal – projeto que integra as 16 instituições de Ensino Superior do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP).
A informação, citada recentemente pelo jornal i online, revela ainda que o número de estudantes estrangeiros em Portugal tem vindo a aumentar e quase duplicou do ano letivo de 2011/2012 para o de 2020/2021. Contudo, este ano sofreu uma quebra de -10% relativamente ao anterior, devido ao impacto do surgimento da pandemia.
A Área Metropolitana de Lisboa (38%) e o Norte (32%) são as NUT II com mais estudantes estrangeiros, mas é o Alentejo (+230%) que regista maior crescimento entre 2014/15 e 2020/21, seguindo-se o Norte (+108%) e o Algarve (+97%).
“Nós fomos quem mais subiu em termos de percentagem de estudantes internacionais, aumentamos 230%”, refere a reitora.
“Temos estudantes de Cabo Verde, Guiné, São Tomé e Príncipe, Moçambique, Timor, Brasil, os sírios, alguns afegãos, poucos, dos Camarões, e isto só para lhe dar alguns exemplos, o que faz desta instituição um modelo na integração dos seus alunos”, acrescenta.
Na academia alentejana estudam 8060 alunos, dos quais 1520 são estrangeiros.