07 dez, 2021 - 07:00 • Rosário Silva
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Apesar do ritmo de transmissão da Covid-19 em Portugal estar a um ritmo mais reduzido, o número de casos continua a aumentar e a pneumologista Raquel Duarte considera que "os próximos dias vão ser muito importantes para perceber exatamente o que está a acontecer".
“Nesta altura estamos a assistir a um aumento. Até recentemente, temos assistido a uma redução da velocidade de crescimento", daí que, para a investigadora do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), seja importante entender “se esta redução da velocidade de crescimento se mantém, ou se, fruto da nova variante, voltamos a ter um aumento da velocidade de crescimento”.
O número de novos casos, os internamentos em enfermaria e em cuidados intensivos ou a letalidade, são alguns dos parâmetros que importa analisar nos próximos dias “de forma a termos um retrato fiel daquilo que está a acontecer na nossa população”, acrescenta Raquel Duarte, entrevistada pela Renascença.
Com a chegada antecipada das primeiras 300 mil vacinas contra a Covid-19 para crianças dos 5 aos 11 anos para 13 de dezembro, as opiniões entre os especialistas dividem-se, mas Raquel Duarte considera que a vacina é importante para proteger as crianças e, tal como aconteceu com a vacinação nos adultos, não é esperado um comportamento diferente.
“Nós somos uma população que tem aderido de forma exemplar as medidas que permitem controlar a infeção” e, no que respeita à vacinação “somos dos países que mais tem aderido, portanto, não é expectável que haja uma alteração dos comportamentos em relação à população infantil”, acredita.
Em entrevista à Renascença, a especialista recorda que a responsabilidade de cada um “vai ser fundamental para conseguirmos sobreviver a esta pandemia”.
A pouco mais de duas semanas das festas do Natal e do Ano Novo, Raquel Duarte acredita que é possível ter uma certa normalidade durante a quadra, se cada um cumprir o seu papel.
“Se nós tivermos os cuidados necessários, utilizarmos a máscara de forma adequada, se mantivemos a distancia, se lavarmos as mãos de forma adequada, se evitarmos estar com outras pessoas se tivermos sintomas respiratórios, se evitarmos grandes festas e concentrações fora da nossa bolha familiar, certamente vamos conseguir ter uma vida quase normal”, frisa.
Muitos especialistas temem que os baixos índices de vacinação no continente africano representem uma ameaça para o resto do mundo e Raquel Duarte defende a elaboração de estratégia à escala global para combater a pandemia, que reúna todos lideres mundiais.
“Pensar de uma forma global é olhar para os países do mundo inteiro e é preciso que todos os lideres mundiais se juntem e pensem definitivamente uma estratégia para todo o mundo”, refere.
Esta segunda-feira, vários líderes africanos apelaram à rápida operacionalização da Agência Africana do Medicamento (AMA), para que seja possível produzir 60% das vacinas que são necessárias, até 2040.
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Países como o Egito, Marrocos, Ruanda e Senegal assinaram, inclusive, memorandos de entendimento para produzir vacinas, o que demonstra preocupação e vontade de agir. No continente africano, apenas 7% da população está vacinada.
“A vacinação é fundamental para que toda a população esteja protegida contra a Covid-19, consiga reduzir o vírus em circulação e, simultaneamente, reduzir o risco do aparecimento de novas variantes”, sublinha Raquel Duarte que gostaria de ver estes países a terem acesso à vacina, “não só através da doação das vacinas”, mas também “pela capacidade de a produzirem”.
A falta de acesso à vacina, por um lado, e a iliteracia, por outro, são ameaças que é preciso ultrapassar e, neste ponto, os países mais desenvolvidos podem colaborar muito mais para acelerar o processo.
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A doação dá uma ajuda, mas não chega, por isso, afirma a pneumologista, “é preciso que todo o conhecimento tecnológico em relação às vacinas, seja transmitido permitindo que estes países possam fazer a produção da vacina em quantidades suficientes para garantir a sua distribuição a toda a população”.
“Qualquer pandemia é um problema global. Portanto, enquanto este problema existir em alguma parte do globo, existe a ameaça em todo o mundo”, adverte Raquel Duarte.
“Esta é uma situação típica em que só resolveremos o problema se o mundo inteiro tiver acesso a vacinas de boa qualidade", conclui a investigadora do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto.