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“Hooliganismo em Portugal não é novo e no curto prazo tende a crescer”, diz especialista

09 dez, 2021 - 18:53 • Sérgio Costa

Daniel Seabra diz que é importante fazer ver a quem alimenta este tipo de violência que as punições podem ser severas. Clubes também devem ter papel dissuasor.

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Os episódios de hooliganismo, como aquele a que se assistiu na noite de quarta-feira junto ao Estádio da Luz, não são novos e a tendência no curto prazo é para crescerem, diz o especialista Daniel Seabra.

Em declarações à Renascença o estudioso do fenómeno das claques e do hooliganismo diz que não ficou surpreendido pelos confrontos que se registaram entre adeptos do Benfica e do Dínamo de Kiev, que resultaram em 14 feridos e dezenas de detidos.

“Não é de facto um fenómeno novo, e é um fenómeno que tipifica aquilo que designamos por hooliganismo. Aquilo que encontramos é o planeamento para a participação em confrontos e isso é uma das dimensões principais do hooliganismo enquanto fenómeno que existe, ou existia em Inglaterra desde o Século XIX, e a partir da década de 60 do Século passado, na altura do Mundial de 1966 este fenómeno já estava perfeitamente configurado”, começa por explicar Daniel Seabra.

“Trata-se de uma das últimas etapas da evolução do hooliganismo, o combinar confrontos com hooligans que apoiam equipas adversárias. No contexto português, por mais surpreendente que possa parecer aquilo que vou dizer, também não é recente. É algo que já podemos encontrar desde a década de 80 e que se agudizou sobretudo na década de 90 do Século passado”, acrescenta.

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Daniel Seabra - hooliganismo em Portugal tende a crescer

Em Portugal este tipo de violência não é propriamente comum, mas também existem “elementos que, no seio das claques, têm como objetivo participar e envolver-se em confrontos com adeptos adversários. E isso é uma intenção manifesta e declarada. E alguns deles retiram prazer disso. E afirmam-no claramente.”

Gato e rato

Questionado sobre se as autoridades deviam ter conseguido prever e impedir os confrontos da noite de quarta-feira, Daniel Seabra diz que em Portugal o trabalho da Polícia é bem feito, mas que neste “jogo do gato e do rato” o rato anda sempre um bocado à frente.

“As autoridades em Portugal estão perfeitamente conscientes destes factos e não creio que sejam propriamente surpreendidas. Sabem que é uma real possibilidade, têm sistemas de informação cada vez mais eficazes na pesquisa destas tentativas, sobretudo agora ainda é mais difícil, em consequência das redes sociais e das suas facilidades de comunicação, mas apesar dessa dificuldade isto é um jogo do rato e do gato em que o rato vai sempre um pouco mais à frente.”

“Mas apesar da dificuldade as forças policiais e as autoridades portuguesas têm estado atentas e nalgumas circunstâncias conseguem detetar de forma atempada estes encontros marcados e conseguem até prevenir e evitar, ou pelo menos reagir rapidamente aos mesmos.”

O especialista diz que em Portugal o fenómeno do hooliganismo teve um “ponto de viragem” com a criação do grupo No Name Boys, do Benfica, no início da década de 90. “Se me pergunta se o fenómeno está a crescer no curto prazo, digo-lhe que sim, mas a meu ver ainda numa dimensão menor do que aquela que era possível identificar na década de 80 e 90.”

Por fim, o académico diz que a melhor maneira de travar este crescimento é de acentuar as punições, mas que os clubes também têm um papel a desempenhar.

“Uma forma é fazer crer aos que nestes confrontos participam que as punições podem ser severas. Outra aposta tem obviamente de estar orientada para a prevenção. Há outra dimensão no combate a este fenómeno que a meu ver tem de ser promovida e tem de ser implementada e que incide sobretudo na responsabilidade dos clubes. Vejo com bons olhos que os clubes criem os seus próprios mecanismos de punição para os adeptos que procuram envolver-se nestes tipos de fenómenos”, conclui Daniel Seabra.

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