04 jan, 2022 - 18:31
Depois de ter sido apontado como referência mundial, pelo acelerado ritmo de vacinação contra a Covid-19, Portugal começa agora a perder fôlego e a ficar para trás na taxa de cobertura vacinal da dose de reforço.
O país ocupa a 20ª posição no ranking de nações com a maior percentagem de população inoculada com a terceira dose da vacina contra o SARS-CoV-2 e fica fora do top dez a nível europeu.
De acordo com os dados disponíveis na plataforma "Our World in Data", da Universidade de Oxford, Portugal é o 13.º país da União Europeia com mais doses de reforço administradas, em percentagem da população.
Até ao dia 2 de janeiro, cerca de 29% dos portugueses tinham recebido a terceira dose da vacina. Um valor que fica aquém dos números registados no Reino Unido, Dinamarca, Malta, Irlanda e Áustria, onde a cobertura vacinal da dose de reforço supera os 40%.
Também a Alemanha, Bélgica, Grécia, França, Itália, Hungria, Luxemburgo e Espanha ultrapassam Portugal. Já a Polónia, Letónia e Bulgária apresentam os piores resultados, com uma cobertura inferior a 20%.
De acordo com a Direção-Geral da Saúde (DGS), 88% dos portugueses com mais de 80 anos já receberam a dose de reforço, à semelhança do que acontece na faixa 70-79 anos. Seguem-se os grupos etários dos 60-69 anos (68%) e 50-59 anos (30%).
Já esta terça feira, o secretario de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, avançou que os professores e funcionários de escolas, assim como, responsáveis de respostas sociais como creches e ATL vão poder receber a dose de reforço contra a Covid-19 entre quinta-feira e domingo.
A vacinação da terceira dose da vacina contra a Covid-19 arrancou há cerca de mês e meio, em Portugal, e foi dada prioridade aos profissionais de saúde, do setor social e bombeiros, envolvidos no transporte de doentes.
Atualmente são elegíveis para a dose de reforço as pessoas com 50 anos ou mais anos e utentes com 40 ou mais anos, que foram vacinadas com a vacina da Janssen há pelo menos 90 dias.
O bastonário da Ordem dos Médicos considera que o desempenho modesto de Portugal no reforço da vacinação contra a Covid-19 se explica com o travão a fundo no processo, após a saída de Henrique Gouveia e Melo da coordenação da "task force".
Se é verdade que o país figura no pódio da vacinação primária, já no reforço, Portugal aparece na 20.ª posição. "Baixámos os braços numa altura em que não devíamos ter baixado os braços", constata Miguel Guimarães, em declarações à Renascença.
Para o bastonário da Ordem dos Médicos, "nós tivemos um desempenho fantástico com a liderança do, agora, almirante Gouveia e Melo e a verdade é que quando se atingiu 87% da população vacinada - que era quase toda a gente, menos 2% ou 3% que não aceitaram ser vacinados - as pessoas pararam".
Já o antigo ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes apresenta um ângulo diferente: por um lado, diz, a desaceleração no processo de reforço das vacinas deve-se a "um certo cansaço" das pessoas, associado ao que diz ter sido "um menor empenho e um menor enfoque nas questões de organização, misturado com o período festivo, com o encerramento de alguns centros", durante o mês de dezembro.
Para Adalberto Campos Fernandes, é fundamental agora "olhar para a frente", "tocar a rebate" e acabar o trabalho que falta.