10 jan, 2022 - 10:55 • Lusa
As dificuldades financeiras dos bombeiros voluntários de Góis, no interior do distrito de Coimbra, obrigam a corporação a "fazer contas" diariamente para pagar as despesas no final do mês, disse à agência Lusa o comandante Fernando Gonçalves.
Com uma despesa mensal na ordem dos 27 mil euros para salários, a Associação Humanitária de Góis "vive com bastantes dificuldades para estar nas várias frentes do socorro, a transportar doentes e apoiar as diversas atividades realizadas no concelho", assumiu Fernando Gonçalves, que há mais de ano e meio comanda a corporação.
"Digamos que estamos a fazer contas todos os dias para efetuar o pagamento das nossas despesas", salientou o comandante, que se queixa dos baixos valores pagos pelas entidades do Estado no transporte de doentes e nas emergências pré-hospitalares.
Fernando Gonçalves criticou que exista, atualmente, um protocolo que tem um valor por quilómetro inferior a um transporte de doentes" e lamentou que o Estado continue a pagar 0,51 euros por quilómetro para o transporte de doentes, que não é atualizado há alguns anos, e o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) 0,40 euros.
"Um transporte de doentes teoricamente para o INEM deve valer mais do que uma emergência pré-hospitalar. É esta análise nua e crua que tem de ser feita e perceber que estamos a subsidiar todo o sistema", ironizou.
O comandante dos bombeiros de Góis lamentou ainda que, no início de cada mês, a corporação não tenha recebido o dinheiro do INEM para pagar a tripulação que faz aquele serviço no concelho.
Em termos de atividade, Fernando Gonçalves defendeu uma separação entre o que é o socorro, "atividade para que os bombeiros foram criados", com um código de atividade económica próprio, e outro diferente para o transporte de doentes ou outras atividades, de forma a subsidiar toda a atividade desenvolvida.
Por outro lado, lamentou, alguns sócios pensam que os transportes prestados pela corporação são gratuitos e a associação acumula mais de 60 mil euros de dívidas, "algumas com alguns anos", que causam também constrangimentos financeiros.
Salientando que a corporação tem um grande apoio do município, que lançou recentemente uma campanha de angariação de fundos através da construção de uma manta de croché pela comunidade, Fernando Gonçalves revela que os bombeiros necessitam de uma "terceira ou quarta" Equipa de Intervenção Permanente (EIP) para, "pelo menos", assegurar o socorro no concelho durante o dia.
Com 27 funcionários ao seu serviço, os Bombeiros de Góis possuem duas EIP, com cinco elementos cada, uma instalada no quartel e outra na secção de Alvares, a cerca de 30 quilómetros do centro da vila.
As dificuldades não só apenas de índole financeira, mas sentem-se também no recrutamento de bombeiros voluntários e de profissionais para as EIP, já que os salários são baixos para a atividade que é desenvolvida e que exige muita formação dos operacionais, que acabam por ganhar mais em atividades ligadas à floresta.