19 jan, 2022 - 11:45 • Lusa
O "teste do pezinho", que cobre a quase a totalidade dos nascimentos em Portugal, rastreou em 2021 menos de 80 mil bebés, pela primeira vez no país, revelam dados divulgados nesta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA). A demógrafa Maria João Valente Rosa fala numa queda recorde.
No ano passado, foram estudados 79.217 recém-nascidos no âmbito do Programa Nacional de Rastreio Neonatal (PNRN), menos 6.239 do que em 2020 (85.456), o valor mais baixo de sempre.
O “teste do pezinho” é feito em Portugal desde 1979, mas só há relatório desde 1982, sendo que mais completos só a partir 1984.
De acordo com os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), o maior número de bebés rastreados observou-se no distrito de Lisboa (23.494), seguido do Porto (14.736), de Setúbal (5.919) e Braga (5.833).
Bragança, com 513 bebés rastreados, Portalegre, com 584, e Guarda, como 645, foram os distritos que menos exames realizaram em 2021.
Os dados indicam que setembro foi o mês que registou o maior número de exames feitos (7.255), enquanto fevereiro foi o que teve menos registos (5.602).
Antes deste mínimo regista no ano passado, o número mais baixo tinha sido registado em 2014 com 83.100 exames realizados no país.
Nos primeiros onze meses deste ano nasceram 72.316(...)
De acordo com os dados dos relatórios do PNRN, consultados pela Lusa no ‘site’ do INSA, o número de bebés estudados, entre 1984 e 2008, ultrapassou sempre os 100 mil, sendo o maior registo no ano de 2000 (118.577).
Em 2009, baixou pela primeira vez dos 100 mil recém-nascidos analisados, totalizando nesse ano 99.809 exames, voltando a subir em 2010 para os 101.716 recém-nascidos, o último ano em que se atingiu esse número.
O Programa Nacional de Rastreio Neonatal, coordenado pelo INSA através da sua Unidade de Rastreio Neonatal, Metabolismo e Genética, do Departamento de Genética Humana, realiza desde 1979 testes a algumas doenças graves em todos os recém-nascidos.
O painel das doenças rastreadas é constituído por 26 patologias: hipotiroidismo congénito, fibrose quística e 24 doenças hereditárias do metabolismo.
O exame consiste na recolha de gotículas de sangue no pé dos recém-nascidos para permitir diagnosticar as doenças, que clinicamente são difíceis de identificar nas primeiras semanas de vida, e que mais tarde podem provocar deficiência mental, alterações neurológicas graves, alterações hepáticas ou até situações de coma, refere o INSA.
O exame deve ser realizado entre o terceiro e o sexto dia de vida do recém-nascido, porque antes do terceiro dia os valores dos marcadores existentes do sangue do bebé podem não ter valor de diagnóstico, e após o sexto dia alguns marcadores perdem sensibilidade, havendo o risco de atrasar o início do tratamento.
Todos os casos positivos são posteriormente encaminhados para a rede de Centros de Tratamento, sediados em instituições hospitalares de referência.
O número de “testes do pezinho” hoje divulgado faz Portugal bater um recorde histórico na quebra de nascimentos, disse à agência Lusa a demógrafa Maria João Valente Rosa.
“Hoje, em Portugal, estamos a bater um recorde histórico”, afirmou a especialista em demografia, referindo os registos de dados obtidos desde 1911.
“Nunca tivemos um número de nascimentos tão baixo em Portugal”, frisou.
“Isto tem a ver com o ano em que os bebés foram concebidos”, referiu Maria João Valente Rosa, associando a quebra de nascimentos à pandemia de covid-19.
“Foram crianças concebidas em plena pandemia”, indicou a docente da Universidade Nova de Lisboa.
A incerteza associada à crise provocada pela pandemia, em termos laborais, mas também sanitários, o medo de contrair covid, de não ter uma assistência médica adequada, os problemas com as visitas nos hospitais e no acompanhamento dos partos, pesou na decisão de ter um filho, analisou.
“Temos de compreender estes dados à luz da pandemia. Os nascimentos já estavam a baixar muito, mas nunca tivemos valores tão baixos”, sublinhou.
[notícia atualizada às 14h12]