28 jan, 2022 - 07:00 • Teresa Paula Costa
A Câmara Municipal de Porto de Mós decidiu avançar com um plano complementar de saúde para os residentes no concelho. A medida visa dar resposta à falta de médicos no centro de saúde e nas extensões nas freguesias.
Em declarações à Renascença, o presidente da autarquia, Jorge Vala, revela que o plano “tem como resposta, por exemplo, o médico ao domicílio uma vez por mês, por apenas dez euros.”
Outros benefícios são “a possibilidade de os habitantes fazerem exames complementares de diagnóstico com reduções na casa dos 30, 40 ou 50%, e consultas de especialidade também com desconto de 50%.”
Cento e vinte mil euros é o montante que a autarquia irá disponibilizar, anualmente, para financiar a parte que corresponde aos mais de 23 mil habitantes do concelho, sendo que, para estes, o cartão é gratuito. O plano estará ativo a partir de junho deste ano.
Segundo o autarca, “só no centro de saúde de Porto de Mós, que tem de dar resposta também às povoações de Arrimal, Mendiga e Alqueidão, faltam cinco médicos”. “Temos de baixa prolongada três médicos neste momento, uma vaga que foi deixada por um médico a quem foi autorizada a mobilidade, e temos uma médica ausente porque rescindiu o contrato, dizendo-nos que o fazia por se sentir esgotada”, acrescentou.
Esgotados estão também os poucos médicos que ainda resistem na instituição. José Carlos Ramos, que ajudou a abrir o centro de saúde, desabafa: "somos dois colegas aqui neste momento a ver ficheiros de seis ou sete."
Recentemente, o Ministério da Saúde abriu uma vaga, e não as quatro que foram pedidas, o que o autarca de Porto de Mós diz não compreender. "Esta vaga ficou preenchida, mas agora a médica está de baixa prolongada", lamenta.
A situação repete-se pelas extensões de saúde do concelho e levou, recentemente, à realização de uma manifestação. Vários presidentes de juntas de freguesia pretendiam também boicotar as eleições legislativas de domingo, tendo, a pedido do presidente da Câmara Municipal, abandonado essa ideia.
O autarca conta ainda que “quando fizemos a manifestação, a coordenadora do ACES (Agrupamento de centros de saúde) do Pinhal Litoral telefonou à vereadora e disse-lhe que estava em curso um processo de contratação de dois médicos para resolver de imediato o problema”. Só que, “até agora, não houve mais notícia nenhuma e já mandámos um email ao ACES a perguntar onde estão esses dois médicos que foram prometidos”, relata.
A falta de médicos obriga os utentes a juntarem-se, logo de madrugada, à porta do centro de saúde, para marcarem vez e conseguirem uma consulta.
Bertolino Ribeiro costuma chegar cedo, “lá para as 5h00 da manhã e já lá estão pessoas a marcar vez para terem uma consulta”. Mas, muitas vezes, “uns não conseguem porque há um número de vagas limitado”.
O cenário é o mesmo durante todos os dias úteis da semana, exceto à quinta-feira pois é o dia dedicado aos diabéticos e estes já têm consulta previamente marcada. A Renascença sabe que o receituário está também atrasado.
No concelho, autarcas e população aguardam agora pelos dois médicos que o Aces – Pinhal Litoral – disse que ia contratar. Mas a paciência poderá, em breve, esgotar-se e a luta vir, novamente, para as ruas da vila.