01 fev, 2022 - 19:06 • Filomena Barros , André Rodrigues
O Governo anunciou, esta segunda-feira, um pacote de medidas para enfrentar o quadro de seca que afeta todo o território nacional.
Depois de um outono seco e de um inverno que, até ao momento, regista um volume de precipitação muito abaixo do que seria expectável para esta época do ano, a previsão é de que caia pouca chuva em Portugal até finais de fevereiro.
Na conferência de imprensa da comissão interministerial, que monitoriza a situação de seca no país, o ministro do Ambiente, Matos Fernandes, anunciou restrições para o uso da água para a produção de eletricidade nas barragens de Vilar/Tabuaço, Cabril, Castelo de Bode, Alto Lindoso/Touvedo e Alto Rabagão.
Também a água da barragem de Bravura, no Barlavento algarvio, deixa de poder ser usada para rega agrícola.
Para estas barragens, o Executivo determinou uma cota mínima para assegurar o abastecimento de água para consumo humano durante dois anos e a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, garantiu que ainda não há situações em que esteja comprometido o abastecimento de água para fins agrícolas.
No entanto, o presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) mostra-se preocupado.
Eduardo Oliveira e Sousa considera que o cenário "já não é de preocupação" e fala em "situação dramática".
"O campo está completamente ressequido, os agricultores não têm alimentação natural para os animais, as plantas estão agarradas ao chão cheias de sede. É normal haver frio nesta altura do ano, mas já não é normal haver sede e é um panorama que vai dar origem a uma primavera que pode ser desastrosa e já não para falar no verão, e no que isto pode potenciar em termos de risco de incêndio", alerta o responsável.
Oliveira e Silva lamenta o atraso do Governo na tomada de medidas, nomeadamente no que toca à sensibilização da população, "que tem de olhar para a torneira e para o seu consumo de água. Todos temos de estar envolvidos na luta contra esta situação de falta de água".
A manter-se esta situação de seca, o presidente da CAP reclama apoios para "os agricultores mais carenciados, nomeadamente os agricultores mais pequenos, os agricultores das regiões de montanha, do interior do Alentejo, que fazem pastorícia e que vão deixar de ter alimento para os animais".
Eduardo Oliveira e Silva lembra que são agricultores que "vão precisar de ser ajudados para comprar alimentos que são hoje muito mais caros do que eram há seis meses, devido à subida de preços das matérias primas, dos transportes, da energia.
A somar a este cenário, a previsão do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) aponta para a total ausência de chuva, pelo menos até meados deste mês.
É preciso recuar a 2005 para assistirmos a uma seca tão acentuada no país e a perspetiva é de um agravamento da situação.
Este é um cenário que o Governo tem em cima da mesa e voltará a ser analisado no início de março.