03 fev, 2022 - 06:59 • Lusa
O presidente do IPO de Lisboa disse que ainda está por apurar o impacto da pandemia no sucesso do tratamento dos doentes com cancro, mas adiantou que a perceção dos profissionais é que estão a aparecer casos mais graves.
Em entrevista à agência Lusa, na véspera de se assinalar o Dia Mundial Contra o Cancro, João Oliveira afirmou que os profissionais de saúde alertam para doentes com situação mais graves devido a diagnósticos tardios na sequência da pandemia e que têm de ser fundamentados.
"Temos que ver com a análise mais detalhada dos registos que temos, nomeadamente os que dizem respeito ao estadiamento das doenças, à entrada no Instituto, e vamos com certeza estudá-la e será objeto de investigação", avançou o presidente do Conselho de Administração do Instituto Português de Oncologia de Lisboa.
Apesar de ter havido menos referenciações de doentes, sobretudo dos cuidados de saúde primários, que estiveram mais dedicados à pandemia, "a mudança não foi enorme".
"Foi mais notória nos meses de abril e maio de 2020, mas depois foi relativamente retomada", afirmou, ressalvando que "o IPO é pouco sensível a essas variações" porque geralmente recebe "doenças mais complexas, doenças mais avançadas" que, por isso, "se declaram de qualquer modo e acabam por ser referenciadas".
De um modo geral, a referenciação até aumentou porque o IPO não recebe apenas os doentes reencaminhados pelos médicos de família, o que teve como consequência o aumento da atividade na maior parte das vertentes do instituto, explicou.
Questionado sobre as listas de espera para cirurgia, João Oliveira disse que, devido a "um grande esforço" de todos os profissionais e de organização, tem sido conseguido que estas não aumentem. "Nalguns casos, até diminuímos quer o número de doentes em espera para cirurgias quer o tempo de espera", assinalou.
"Agora, não é fácil fazer desaparecer as listas espera com as dificuldades que vamos tendo" devido à falta de profissionais e à "quantidade de solicitações que se mantêm", reconheceu.
Em 2021, o IPO emitiu 1.947 vales-cirurgia para os doentes serem operados noutra instituição para não exceder o prazo legal de agendamento e apenas 48 doentes aceitaram o vale.
João Oliveira apontou que continuam a chegar ao IPO doentes dos hospitais privados porque o "plafond" do seguro de saúde se esgotou ou porque precisam de uma terapia específica.
Nesta entrevista lamentou que a construção do novo edifício do IPO não estivesse prevista no Orçamento do Estado (OE) para 2022, que foi chumbado e levou à dissolução da Assembleia da República.
"Ficámos muito animados porque este projeto, que é de vários milhões de euros, estava claramente inscrito no Orçamento do Estado para 2021, mas infelizmente não o vimos mencionado no Orçamento de Estado para 2022", disse, esperando que na proposta do novo OE volte a estar inscrito.
João Oliveira alertou que, "se o edifício não for construído, é a globalidade da prática do instituto que vai ficar em perigo" e "a funcionalidade global, apesar de "muitos outros milhões de investimento" que já estão concretizados no IPO.
O presidente do IPO defendeu que a sua construção "é de uma premência enorme", porque é um edifício destinado a atos de saúde em ambulatório.
"A oncologia tem evoluído nos últimos anos para uma ampla utilização [do ambulatório] com grandes benefícios, quer na comodidade dos doentes, quer em certa medida nos custos, mas sobretudo na fluidez e na facilidade com se praticam os cuidados", salientou.
Atualmente, o ambulatório está repartido por "cantos do hospital" que foi feito numa altura em que o doente oncológico estava internado e havia "consultas simples, sem grandes coisas".
Atualmente, o ambulatório tem cirurgia, "imensos exames, até invasivos", em que as pessoas ficam umas horas e vão para casa.
O oncologista explicou que o projeto corresponde a um plano funcional que o IPO já fez e reviu de acordo com as observações feitas pelas autoridades de saúde competentes.
O IPO de Lisboa recebe, em média, anualmente quase 20 mil novas referenciações de doentes. Em 2021, foram pouco mais de 18 mil, um número "muito grande" de doentes em que a maior parte fica de a ser seguido na instituição.
Em média, são acompanhamos anualmente entre 50 a 60 mil doentes oriundos sobretudo na zona sul do país. "Mas temos doentes desde Monção a Vila do Bispo, das ilhas [Madeira e Açores] e dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa".