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Ataque travado na Universidade de Lisboa

"Premeditação e anúncio nas redes pressupõem frieza e necessidade de reconhecimento"

10 fev, 2022 - 23:52 • André Rodrigues

Estudante de 18 anos foi detido em flagrante delito e preparava-se para matar o máximo número de colegas da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Psicóloga considera prematuro apontar motivações para o sucedido. Mas alerta a escola e as famílias para que estejam atentos a eventuais comportamentos desviantes.

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Vai ser presente, esta sexta-feira, a primeiro interrogatório judicial o jovem de 18 anos suspeito de planear um ataque à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL).

O estudante está indiciado pelo crime terrorismo e foi detido em flagrante delito pela Polícia Judiciária na sequência de um alerta do FBI.

As autoridades encontraram armas brancas e planos de ação para matar.Ideologias políticas, crenças religiosas ou alguma perturbação de doença mental? É a pergunta para a qual se procura uma resposta, a fim de determinar as motivações do jovem de 18 anos que se preparava para levar a cabo um atentado terrorista contra a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Na perspetiva de Rute Agulhas, especialista em psicologia da Justiça, há um dado que parece não merecer contestação: "o facto de ser um crime premeditado e anunciado nas redes faz pressupor uma frieza emocional e alguma necessidade de reconhecimento".

As razões por detrás dessa necessidade de reconhecimento "são hipóteses". Mas, para esta especialista, não é de excluir que o perfil deste suspeito de 18 anos esteja associado a "uma personalidade mais narcísica" ou a "alguma ideologia política ou algum tipo de crenças religiosas. Também podemos estar perante alguém que tem uma perturbação ao nível da doença mental".

Rute Agulhas reconhece que é difícil identificar os perfis de risco. E dá como exemplo aquilo que acontece na escola, que "está muito mais alerta para os jovens ou crianças que se portam mal, que têm processos disciplinares. E aquele que está calado e sossegado porta-se bem", mas pode estar a crescer "com algum tipo de ideias ou de objetivos mais desviantes ou criminosos", sem que ninguém dê por isso. Nem mesmo os pais ou a família mais direta.

"O que falta, em Portugal, é apostar num sistema educativo que tenha técnicos com disponibilidade nas escolas para trabalhar com estas crianças e jovens numa perspetiva das questões de empatia, das emoções, do respeito pelo outro. Ou seja, pensarmos na escola não tão focada nas notas e nas aprendizagens", aponta.

"Pais não fazem ideia do que os filhos estão a ver"

Por outro lado, Rute Agulhas coloca o papel da família em evidência, na prevenção destes comportamentos criminosos e alerta os pais para que não deixem os filhos crescer à frente da televisão, dos computadores e de outros equipamentos eletrónicos sem exercerem qualquer tipo de regulação.

Pode ser pela sobrecarga de tarefas profissionais e domésticas, mas, a verdade é que, segundo esta psicóloga, "muitas crianças e jovens são deixados entregues a eles próprios e às tecnologias e os pais não fazem a mínima ideia do que eles estão a ver, com quem conversam, que ficheiros ou filmes partilham ou recebem".

"Essa é uma questão importante: a questão da supervisão, da comunicação entre pais e filhos e da promoção de uma relação de confiança que permita identificar o mais cedo possível alguns comportamentos mais desajustados, algumas situações de risco, para intervir antes que, do risco, passemos ao perigo e que, já numa situação de perigo, possam surgir situações como esta", acrescenta

Não ter medo da própria sombra

No dia seguinte ao choque pela notícia de um atentado em preparação, Rute Agulhas considera natural que haja receios e desconfianças quanto à segurança no espaço da faculdade e que se traduzem em "sintomas de ansiedade ou de dificuldade em dormir".

No entanto, esta perita em psicologia da Justiça ser "importante que não se desenvolva a ideia de que qualquer pessoa é um potencial terrorista, ao ponto de ter medo da própria sombra, sob pena de termos jovens que não querem ir às aulas e que levem esta situação a uma reação mais fóbica".

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