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Cibersegurança. Instituições portuguesas andam “a diferentes velocidades”

12 fev, 2022 - 08:47 • João Malheiro , Marta Grosso

O especialista que ajudou a ligar Portugal à internet em 1991 falou com a Renascença sobre a situação de segurança na internet na Administração Pública.

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Há uma grande disparidade, em termos de cibersegurança, nas instituições portuguesas, avisa o especialista em segurança digital Henrique João Domingos.

“Existem diferentes velocidades e diferentes situações. Há uma grande disparidade, mesmo dentro do mesmo setor, como, por exemplo, a administração pública: existem locais, existem práticas, processos e orientações a determinados níveis que são muito diferentes de outros”, indica à Renascença.

“Fizemos muitas observações do estado de segurança, desde os nossos impostos, marcações de consultas no Serviço Nacional de Saúde, às nossas universidades e o que encontramos são ainda grandes discrepâncias e, sobretudo, às vezes alguns dos setores às vezes bastante depauperados”, acrescenta o especialista que integrou o grupo de trabalho que ligou Portugal à internet, em 1991.

Henrique João Domingos realça também que há uma parte significativa da população com muitas dificuldades em lidar com processos digitais, um cenário que torna o aumento da literacia digital “absolutamente crucial”.

“Vivemos um processo em que já temos pessoas muito habilitadas a utilizar os computadores e com estas preocupações, mas ao mesmo tempo ainda temos uma parte significativa da população que tem muitas dificuldades em lidar com estas situações e, muitas vezes, nós estamos a colocar serviços e processos digitalizados levando a que essas pessoas os tenham que usar, quando na verdade essas pessoas podem não estar preparadas para o fazer”, afirma.

Como exemplo atual, este professor na Nova School of Science dá “o que acontece quando se tem de entregar uma declaração de impostos: há pessoas que têm uma imensa dificuldade. Ora, essas pessoas obviamente também têm um défice muito grande e são os primeiros que podem ser facilmente atacados, ou seja, ser um veículo de ataque”.

Mais digital, mais riscos

Numa perspetiva geral sobre a onda de ataques informáticos que se têm realizado em Portugal, o especialista em cibersegurança explica que a transição digital implica um maior risco.

“Neste momento, estamos num processo de aceleração da economia digital e das transformações digitais e estamos a passar muitos dos nossos processos de trabalho, de negócio, mas isto comporta riscos. E estes riscos têm de ser acautelados”, avisa.

“À medida que os sistemas se tornam mais complexos e cada vez mais abarcam dados e processos que são cada vez mais críticos, tornar-se-ão também alvos apetecíveis dos ditos amigos do alheio. Mas é expectável que essas coisas se alarguem? É expectável na medida em que cada vez mais haverá mais e mais processos de negócio e sistemas críticos que entrarão na agenda da economia digital e da era digital. E, portanto, isso vai aumentar esta frente e esta probabilidade”, prevê.

Henrique João Domingos é professor na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.

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