14 fev, 2022 - 17:55 • Lusa
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O investigador Miguel Castanho considerou esta segunda-feira que ainda é cedo para aliviar as restrições nesta fase da pandemia, defendendo ser necessário ter valores “bastante mais baixos” em termos de incidência, internamentos e óbitos por covid-19.
“O que temos que decidir agora é qual é o ponto ideal para aliviar as restrições, que eu creio que não será já”, disse à agência Lusa o investigador do Instituto de Medicina Molecular, a dois dias da reunião que junta peritos e políticos, para avaliar a situação epidemiológica de covid-19 no país.
Para Miguel Castanho, o que há a fazer agora é reconhecer que todos os indicadores estão em fase descendente, nomeadamente a incidência, os internamentos e os óbitos.
“O Rt [índice de transmissibilidade] está claramente inferior a 1, o que aponta para essa fase descendente (…) o número de vítimas mortais parece que começou a estabilizar, eventualmente a diminuir, mas não temos nada para celebrar porque o valor está bastante elevado”, com “um número absolutamente incomportável de mortes diárias”, sublinhou.
Apesar de, em termos proporcionais, o número de pessoas que morreram devido à variante Ómicron ser “muitíssimo menor” do que o observado com a Delta, como houve muitas pessoas infetadas, o número de mortes em termos absolutos “foi ainda bastante elevado”.
Sobre se estes óbitos por covid-19 poderão ter sido motivados por outras causas, o professor catedrático da Faculdade de Medicina de Lisboa afirmou ser “uma falsa questão”.
“Ainda que a covid-19 só tenha agravado a outra doença, o que é certo é que é um fator de contributo para a morte ou para o agravamento da condição daquela pessoa”, que fica num risco muito maior, justificou, vincando que não se deve subestimar a gravidade da covid-19.
Voltando à questão sobre o alívio das restrições, Miguel Castanho disse que deve acontecer quando se atingir “valores bastante mais baixo” de incidência, internamentos e vítimas mortais.
Estes valores devem aproximar-se dos definidos para a matriz de risco de 120 casos por 100 mil habitantes a 14 dias. “Agora ainda estamos à volta dos 6.000 [casos] só para termos uma noção do desfasamento em que estamos em relação aos parâmetros iniciais”, observou.
“Quando chegarmos a valores mais comparáveis com esses, quando estivermos claramente com um número de vítimas mortais bastante inferior ao que temos atualmente, e isso deverá ser no máximo metade daqueles que temos atualmente, aí estamos também mais próximos da primavera”, altura em que poderá ser adequado fazer uma revisão das medidas de contenção.
O investigador indicou ainda que já se está a observar um relaxamento das medidas por parte da população.
Por um lado, há “um desejo muito forte” de passar esta fase, “uma tendência natural muito grande para atirar a pandemia para trás das costas”, e, por outro, as pessoas têm a perceção de uma fase de melhoria e “o vírus já não será tanto uma preocupação”.
A isso acresce a dificuldade que as pessoas já têm em acompanhar a mudança das regras, tendendo “a esquecê-las e a viver de acordo com a sua própria impressão”.
Por essa razão, Miguel Castanho aconselhou as autoridades a não tomarem medidas pontuais e a explicar às pessoas que, a partir determinada altura, o país vai entrar numa nova fase e haverá um conjunto de novas regras.
“Se cada uma destas coisas é mudada pontualmente e isoladamente, às tantas, as pessoas não acompanham e não conseguem ser coerentes com as medidas que estão em vigor, além de que não entendem bem e, portanto, é mais difícil aderirem ao plano”, argumentou.
O investigador disse ainda que se deve ser “muito cauteloso” quando se tomam medidas em comparações com outros países: “A lógica das transmissões, contágios, das infeções, das doenças é uma lógica muito local e devemos resistir às vezes a fazer comparações precipitadas entre países”.
“Alguns países estão melhores que nós e, portanto, aliviam restrições e alguns países tinham restrições mais apertadas do que as nossas e estão a aliviá-las”, notou.