16 fev, 2022 - 16:00 • Rosário Silva
Na ACASO, a Associação Cultural e de Apoio Social de Olhão, no distrito de Faro, a pandemia agravou a situação da falta de enfermeiros a partir de agosto de 2021. Gestora da Unidade de Cuidados Continuados de Média Dimensão e Reabilitação (UMDRO), esta Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) foi mesmo obrigada a encerrar algumas das suas 35 camas.
Em dezembro do ano passado, depois de uma análise atenta, a ACASO decidiu aderir à plataforma digital MyCareforce, criada em 2021, com a finalidade de conectar enfermeiros a turnos disponíveis em instituições que trabalhem na área da saúde e no sector social em Portugal.
“Em termos de recursos humanos, enquanto entidade empregadora, esta plataforma facilita-nos imenso a gestão do processo do prestador de serviço, porque todos os enfermeiros que nela estão inscritos, têm todas as condições, nós temos essa garantia, para prestar cuidados de enfermagem, além dos pagamentos ou preenchimento dos turnos, que é muito mais fácil, rápido e seguro”, testemunha Tiago Ramos.
O diretor de Recursos Humanos da ACASO foi um dos participantes na sessão de apresentação desta quarta-feira, do projeto para captação de profissionais de saúde e que agora chega a Évora, através da União Distrital das Instituições Particulares de Solidariedade Social de Évora (UDIPSS-Évora).
“Contamos com a MyCareforce para levar para a frente um projeto piloto que vai procurar congregar enfermeiros, profissionais de saúde e IPSS”, sublinhou Tiago Abalroado, presidente da UDIPSS-Évora, acrescentando que a disponibilização de “um sistema aplicacional” vai permitir que se consiga “captar profissionais tão necessários na nossa região”.
Assim, com esta parceria, vai “ser possível, durante um período piloto de seis meses, assegurar uma fase de teste, da experimentação da aplicação junto das IPSS do concelho de Évora, por onde começaremos, para testar a eficácia desta aplicação”.
Por outro lado, acrescenta o responsável, “queremos garantir, também, ir conseguindo congregar os profissionais de saúde que se encontram na maioria na capital de distrito e no concelho”, para, posteriormente, “podermos alargar aos outros concelhos do distrito e demais IPSS, avaliando a sua eficácia e, ao mesmo tempo, colher contributos para que a aplicação se torne mais útil”.
No caso da instituição algarvia, os resultados são muito positivos. “Os últimos tempos têm sido complicados em termos de recrutamento de enfermeiros e esta plataforma veio-nos dar algum ânimo e abrir uma luz ao fundo do túnel para conseguirmos completar os nossos horários e termos a certeza que os cuidados prestados aos nossos utentes são em qualidade e em segurança”, complementa Ana Calão, enfermeira-chefe e especialista em Reabilitação da UMDRO.
João Silva, cofundador e responsável de operações da MyCareforce baseia-se em estudos credíveis e que apontam para uma escassez de profissionais de saúde de “cerca de 18 milhões, até 2030”.
Um número preocupante sustentado em motivos como o cansaço dos profissionais, a falta de retenção, neste caso em Portugal, a falta de condições de trabalho ou a passagem de muitos à reforma nos próximos anos.
Em tempos de dificuldade há que olhar também para as oportunidades, e uma delas é “que as instituições tenham acesso a uma resposta adaptada e flexível para as necessidades, acesso a um banco de profissionais disponíveis”, mantendo, ao mesmo tempo, “o equilíbrio profissional e pessoal dos nossos profissionais”, sustenta João Silva.
É neste contexto que surge a MyCareforce, uma ferramenta digital que admite às instituições o acesso direto a um banco de enfermeiros locais, permitindo-lhes preencher em horários a prestação dos cuidados de saúde, sem manchar a qualidade dos mesmos.
“É fácil de operacionalizar, quer para profissionais, quer para as instituições”, garante o cofundador da plataforma. “Estas têm 100% de autonomia na publicação dos turnos, onde definem o horário em que necessitam do enfermeiro, o valor a pagar, a formação do profissional e outros requisitos”, acrescenta.
Por sua vez, “os enfermeiros registados na plataforma têm acesso a esta informação e consoante a experiência e a disponibilidade podem candidatar-se, sendo depois de uma criteriosa avaliação”, escolhido o candidato que melhor se adequa à necessidade sentida.
Segundo os promotores desta ferramenta, oito meses e meio após a sua criação, já conta com mais de 6.400 enfermeiros registados, trabalhando com cerca de 40 instituições de saúde, tendo sido possível preencher mais de sete mil horas de enfermagem.
“Com este projeto piloto em colaboração com a União Distrital de Évora das IPSS, começamos no concelho de Évora para vos ajudar nesta luta diária que é a gestão dos recursos humanos nas instituições de saúde, disponibilizando a nossa plataforma, durante seis meses, de forma gratuita, para um teste e assim ajudarmos a colmatar as vossas necessidades”, anunciou João Silva.
A MyCareforce foi desenhada para todas as instituições e é abrangente a todos os cuidadores de saúde, independentemente da sua tipologia. Por agora comporta apenas o pessoal de enfermagem devido à sua escassez, mas nos “próximos meses, um ano abriremos a outros profissionais” como, por exemplo, terapeutas da fala, de reabilitação, fisioterapeutas e até médicos.
Além da MyCareforce e da União Distrital das Instituições Particulares de Solidariedade Social de Évora, este projeto piloto de parceria, é levado a cabo também com a Administração regional de Saúde do Alentejo e o Parque do Alentejo de Ciência e Tecnologia.