24 fev, 2022 - 07:29 • Lusa
Mais de metade (56,7%) dos psicólogos inquiridos num estudo disseram ter aumentado "um pouco" ou "bastante" o volume de trabalho durante a pandemia, mas 1,5% teve de suspender a atividade por conta própria e 0,4% entrou em "lay-off".
Promovido pela Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), o estudo visou caracterizar a adaptação da prática profissional dos psicólogos das diferentes áreas e contextos de atividade à situação de pandemia, desde março de 2020.
Antes da pandemia, 4,1% dos psicólogos inquiridos estavam desempregados ou à procura de atividade profissional enquanto psicólogo, percentagem que caiu para 1,5% depois da pandemia.
Em declarações à agência Lusa, o bastonário da OPP afirmou que o "aumento substancial" do volume de trabalho reportado pelos psicólogos reflete "a procura que a população faz dos seus serviços" e o "nível de atividade em termos de emprego versus desemprego da profissão".
Francisco Rodrigues salientou que o inquérito online anónimo aponta para "uma redução muito substancial" do nível de desemprego, colocando-o em valores "muito pequenos", considerando este dado "muitíssimo importante" relativamente à valorização da profissão.
Para esta redução, adiantou, também contribuiu a contratação de mais de 500 psicólogos para as escolas durante a pandemia.
O bastonário disse que "um pouco mais de 20%" dos profissionais está numa "situação precária" relativamente ao seu vínculo laboral.
A forma de trabalhar também mudou para muitos psicólogos. Antes da pandemia 51,9% dos inquiridos nunca tinham realizado intervenções psicológicas à distância, uma percentagem que caiu para 7,4% durante a pandemia, sendo o serviço de videoconferência o mais utilizado (89%).
No entanto, mais de dois terços (68%) continuam a preferir a intervenção presencial e apenas 2,4% a modalidade a" distância . Ainda assim, 57,6% pretendem manter este tipo de intervenção no futuro, refere o estudo, indicando que a adaptação foi fácil ou muito fácil para quase metade dos inquiridos.
Para Francisco Rodrigues, esta "grande adaptação" dos psicólogos é "muito importante para o desenvolvimento da profissão", mas também para facilitar a acessibilidade das pessoas aos serviços.
Outra das conclusões do estudo revela que cerca de 40% dos inquiridos disseram ter piorado o nível de bem-estar psicológico desde o início da pandemia e 24,2% apresentam sintomas ou sinais de "burnout".
Questionado sobre estes dados, o bastonário afirmou que "os psicólogos são humanos e, por isso, seria estranho que também não fossem afetados no seu bem-estar com alguns problemas decorrentes da pandemia", mas salientou que 87,6% dos inquiridos adotaram estratégias "muito diversificadas, adequadas e muito eficazes" para lidar com os impactos na sua saúde mental".
Entre essas estratégias, 76,1 disseram recorrer ao suporte social de amigos e família, 70,1% fazem "uma boa higiene do sono" e 68,6% mantêm uma atitude positiva no trabalho.
Há ainda 21,3% que desempenha atividades profissionais noutras áreas, 24,1% recorre a psicoterapia, desenvolvimento pessoal e/ou "coaching" psicológico, 45% desconecta-se do trabalho (email, SMS, telefone) e 61% dizem manter o equilíbrio entre o trabalho e vida pessoal.
O estudo "Condições socioprofissionais dos psicólogos face à Pandemia" decorreu entre 3 de setembro e 6 de outubro de 2021 e envolveu 1.759 participantes.