01 mar, 2022 - 10:04 • Lusa
Os especialistas em recursos hídricos do Norte do país defendem a poupança de água no consumo privado, mas consideram que é preciso fazer mais para utilizar de forma eficiente um recurso que tende a ser cada vez mais escasso.
"Devemos começar a olhar para este tipo de fenómenos com maior preocupação, porque este tipo de secas vai ser cada vez mais regular e nós não estamos preparados para isso, de todo", disse a investigadora da Universidades de Trás-os-Montes e Alto Douro Daniela Terêncio, em declarações à Lusa.
Na passada quarta-feira, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) apelou ao uso sustentável de água, sugerindo que se evite "o desperdício de água nos usos do quotidiano, lavagem de carros e enchimento de piscinas particulares".
No dia seguinte, o presidente desta agência, Nuno Lacasta, afirmava que Portugal "está mais bem preparado do que nunca" para enfrentar a seca, devido à "experiência" com este fenómeno, que se tem tornado cada vez mais recorrente.
Apesar do abastecimento garantido, a Agência Portu(...)
Contribui também positivamente um foco na "gestão da procura", olhando para "a eficiência hídrica, a reutilização de água, o conhecimento das disponibilidades", vertentes que são "muito recentes no nosso país", destacou Lacasta.
Questionada sobre se Portugal lida bem com a seca, Daniela Terêncio foi perentória: "Acho que não". Segundo a especialista, "existem muitas estratégias e muito planeamento que não são postos em prática".
Uma maneira de solucionar o problema, sugere, é tornar a eficiência hídrica uma obrigatoriedade em novas construções, à semelhança do que já acontece com a eficiência energética.
O engenheiro especialista em recursos hídricos Joaquim Poças Martins considera, em declarações à Lusa, que "devemos sempre poupar" e fala até na importância de "criar uma cultura de poupança".
Em Portugal, o consumo de água está "em linha com os consumos moderados de países desenvolvidos com que nos comparamos", adianta o professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
Duches mais rápidos, "apliques" que permitem a poupança de água nas torneiras, evitar lavar os carros e não regar a relva são algumas das regras básicas da poupança no consumo privado.
"O número mágico é 10 litros [de água] por cada minuto de água a correr nas torneiras". Cada minuto poupado, são menos 10 litros que se gastam.
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Há aplicações que indicam que quantidade de água s(...)
Mesmo com esse esforço individual, que deve ser feito, "do ponto de vista objetivo, em Portugal, na maioria dos casos, o impacto não é demasiado grande, porque o gasto não está no consumo doméstico, está na agricultura".
Há também perdas nos sistemas municipais que podem ser facilmente colmatadas, e que permitem poupar água, num país onde há concelhos com perdas de água na ordem dos 80%.
Essas perdas podem ser reais, quando são perdas físicas, ou aparentes, na faturação, que também são importantes porque "água que não é medida nem faturada, não se poupa".
Para as perdas reais, "é possível, com medidas de gestão, sem gastar muito dinheiro, reduzir as perdas para valores aceitáveis -- qualquer coisa acima dos 20% é inaceitável, entre 10 e 20% já é aceitável, o desejável é que esteja abaixo dos 10%", detalha.
Reparar rapidamente fugas e fazer um "controlo ativo de perdas de água", recorrendo a "um estetoscópio, equivalente ao dos médicos, que vai ouvir o sim da água a fugir", são dois exemplos de medidas baratas que os municípios podem adotar.