19 mar, 2022 - 08:14 • Ana Carrilho
Mais de dez mil vagas de emprego, é a estimativa do presidente da Associação Fórum Turismo, António Marto. A Bolsa de Empregabilidade decorre até amanhã, sábado, e quem quiser ir à FIL do Parque das Nações, ainda se pode inscrever na plataforma https://www.bolsadeempregabilidade.pt/ . Ou se preferir, tem a alternativa do Porto, a 6 de abril, no Palácio da Bolsa.
A ronda que fizemos confirmou que a esmagadora maioria das ofertas são para operacionais: receção, serviço de mesa, house-keaping, cozinha. O sector que está a recrutar e com maior urgência é o da hotelaria. Há condições para o turismo arrancar em força, há muitas reservas já para a Páscoa e verão e as unidades de alojamento têm de organizar e formar as equipas.
Algumas entidades ou empresas aceitam as candidaturas no stand, mas a maioria remete para os sites. E no caso da AHRESP, para a Bolsa de Emprego, criada recentemente e que visa cruzar as ofertas (das empresas) com a procura (dos candidatos) em todo o país.
Nas edições anteriores, foram os jovens que mais procuraram a Bolsa de Empregabilidade para deixar o seu curriculum, à procura de um estágio (se forem finalistas dos cursos de hotelaria e turismo) ou de um primeiro emprego, se já tiverem o curso concluído.
Desta vez, a situação é diferente: 35% dos inscritos são desempregados e 25%, pessoas que querem mudar de emprego. Um quarto dos mais de três mil inscritos na plataforma, são jovens. Há ainda que contar com mais algumas centenas de estudantes das escolas do Turismo de Portugal e de licenciaturas em Turismo.
Ana Lima é brasileira e chegou a Portugal em 2019 com a ideia de montar o seu próprio negócio. A pandemia trocou-lhe as voltas acabou por ficar a trabalhar quase dois anos numa livraria, mas a recibos verdes. Há um mês que não tem trabalho e decidiu aventurar-se numa nova área que considera aliciante: o turismo. Pela volta que já tinha feito quando a Renascença a encontrou, percebeu que não teria grandes hipóteses de arranjar alguma coisa na área administrativa. Mas não se preocupa em começar de baixo e ir fazendo o seu caminho.
Também Denise não encontra nada na área que pretendia. Esta aluna finalista da Licenciatura de Turismo gostava de se inscrever para emprego na aviação. Mas esse é exatamente o setor que não se fez representar nesta edição da Bolsa de Empregabilidade. Apesar de sentir alguma desilusão, inscreveu-se em várias empresas, fez contactos e deixou currículos.
Daniela, por seu turno, está interessada no trabalho de rececionista de hotel, na zona de Lisboa, e já tinha deixado a sua candidatura em três grupos.
Apesar da maior procura para as áreas operacionais e que exigem menores qualificações, há empresas que também estão interessadas em recrutar para chefias intermédias ou outras funções, como Relações Públicas.
“No turismo existe muito o trabalho de baixo para cima, compreendendo todas as áreas de trabalho, para depois crescer de forma mais sustentável, argumenta António Marto.
As empresas estão mais disponíveis para contratar outros perfis de idades, “porque senão podem não ter recursos suficientes para alimentar a sua operação” e até pessoas com um perfil muito especial, com deficiência. Para dar o exemplo, a Feira da Empregabilidade tem, entre os hospedeiros, sete jovens com trissomia 21, utentes do CAO Ajuda (Centro de Atividades Ocupacionais) da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental.
“É para lhes mostrar (às empresas) que também são força de trabalho, pessoas muito válidas e disponíveis para o exercício das suas funções. Não é para a fotografia; é para lhes dar uma chapada de luva branca porque há empresas que são um pouco resistentes a contratar pessoas com algum tipo de incapacidade, física ou intelectual. Outros, já deram um passo em frente e o presidente da Associação Fórum Turismo fez questão de referir o bom exemplo do Hard-Rock Café Lisboa, que contratou duas pessoas com trissomia 21. ”Temos de valorizar as suas capacidades e algumas poderão encontrar aqui uma oportunidade”.
E todos circularam também pelos diversos stands. Acompanhados pela diretora do CAO Ajuda, apresentaram-se e deixaram claro que querem trabalhar, ganhar dinheiro e ter alguma independência.
Filomena Abraços, que se empenha intensamente em proporcionar a alguns dos utentes do CAO Ajuda experiências que desenvolvam a sua autonomia, afirma que já se assiste a alguma mudança de mentalidade das empresas, o” estigma da deficiência tende a ser atenuado. Já vai sendo possível terem acesso a emprego e a alguma autonomia, embora ainda longe do desejado. Mas há resultados positivos”.
A responsável da instituição viu com agrado o facto de, em vários stands, haver interesse em saber quais eram as competências de cada um dos jovens, o que faziam e quais são os seus sonhos.
Inês Lopes deixa tudo isso muito claro por onde passa. “Quero um emprego, o meu sonho é ser cozinheira”, reafirmou à Renascença. “Gosto muito de cozinhar e gostava de aprender a fazer mais pratos, para outras pessoas e para mim, lá em casa. Gostava de ser uma boa cozinheira”.
A colega Carina Fumega também não esconde a satisfação por ter voltado à Feira da Empregabilidade. “Gostava de ter um bom emprego, para ter dinheiro e ajudar os meus avós”. A escolha vai para as limpezas e para o trabalho num hotel. E também deixou a sua candidatura.
São sobretudo mulheres e chegaram há poucos dias a Portugal, a maioria com filhos pequenos. É o caso de Anna, que veio de Tcherkássi, no centro da Ucrânia. O marido, polícia, teve de ficar para combater pelo país, assim como outros familiares.
Apesar de na altura a cidade não ser das mais atingidas pelos bombardeamentos russos, estiveram vários dias num bunker e a filha mais nova estava sempre numa grande ansiedade. Meteu-se no carro com as duas filhas (de 9 e 15 anos), uma amiga e o filho desta, passaram a fronteira para a Moldávia e percorreram a Europa em 14 dias até Portugal. Chegaram na segunda-feira e estão alojados em santa Cruz.
Anna, a amiga e o filho desta, inscreveram-se e vieram para tentar arranjar algum trabalho que lhes permita manter-se durante alguns meses, até que haja condições para regressarem à Ucrânia.
As ofertas que encontraram não têm nada a ver com as suas profissões (Anna é criminologista e a amiga, professora primária), mas para já, o importante é arranjarem algum trabalho.
Para António Marto, isto mostra que “o turismo está disponível para agir rapidamente e receber pessoas com outras formações. Abrimos as portas, as pessoas veem e algumas vão encontrar soluções; outras levam contactos”.