19 mar, 2022 - 14:12 • Ana Carrilho
Com o alívio das restrições sanitárias por causa da pandemia de Covid-19 e, apesar de nova crise, agora gerada pela guerra da Rússia contra a Ucrânia, os portugueses mostram que têm vontade de voltar a viajar. Ainda muito em Portugal, mas também para o estrangeiro.
“Tem havido muita procura e sobretudo, muitas reservas. Há agências (de viagens) que já estão ao nível de 2019 ou mesmo superior, nomeadamente em relação à Páscoa. Arriscamo-nos a dizer que no caso da Páscoa temos números muito parecidos com os de 2019. É muito bom”, revelou Pedro Costa Ferreira, presidente da APAVT - Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo, em entrevista à Renascença. Acredita ainda que no próximo ano esse patamar seja plenamente atingido, embora tudo dependa do evoluir da pandemia e da guerra.
Além de todas as regiões do Continente, Madeira e Açores, os turistas nacionais também mostram preferência por destinos mais quentes, como as Caraíbas, Cabo Verde ou Brasil.
Quanto à zona de conflito, como a Ucrânia, Rússia ou mesmo alguns países vizinhos, não têm peso significativo no mercado emissor português e por isso, desse ponto de vista, o impacto da guerra não se nota.
Ainda assim, Pedro Costa Ferreira admite que há empresas, nomeadamente ligadas a circuitos europeus de autocarro que tinham como destinos a Europa Central, países bálticos e mesmo Rússia, que vão ser mais afetadas e, consequentemente adiar a recuperação.
As reservas estão a ser feitas, apesar os preços estarem a subir. E se a guerra se prolongar, a inflação e os combustíveis continuarem a aumentar, os preços dos programas turísticos também terão de aumentar. Mas para já, “a espécie de poupança forçada que as pessoas tiveram de fazer por não poderem sair por força da pandemia, é um estímulo ao regresso ao consumo e está a alimentar as reservas de viagens”.
Este fim de semana, na Bolsa de Turismo de Lisboa, dedicado ao público, é mais uma oportunidade para conseguir comprar pacotes de férias ou fins de semana a preços mais favoráveis. Toda as agências de viagens têm promoções para pré-reservas.
“Na minha opinião, são oportunidades para aproveitar porque não se esperam propostas de última hora, face à procura existente e à oferta eu está a ser construída. Esperam-se aviões cheios e nessas condições, os melhores preços conseguem-se com maior distância entre a data da reserva e a partida”, lembra Pedro Costa Ferreira.
O presidente da APAVT sublinha que este cenário de reservas é muito bom, mas apenas um primeiro passo na recuperação das empresas. “Nos últimos dois anos as agências de viagens perderam entre seis a dez anos de resultados. Quando atingirem os resultados de 2019, terão resolvido um sexto ou um décimo dos problemas financeiros criados com a pandemia. A retoma será lenta”.
Por isso, Pedro Costa Ferreira frisa que o setor ainda precisa de apoios e especialmente, à recapitalização. Alerta que os apoios que existem baseados na relação com o Banco de Fomento são muito complexos e deixam fora as micro e pequenas empresas, que constituem grande parte da rede de agências e viagens.
Em campanha eleitoral, a APAVT propôs a António Costa a possibilidade do APOIAR.PT se prolongar de abril a dezembro de 2021 e teve resposta positiva. Espera agora o cumprimento da promessa por parte do novo Executivo, que vai tomar posse no dia 30. “Poderá resolver os problemas de recapitalização das empresas mais pequenas. Depois, o regresso à normalidade fará o resto”.
Em conferência de imprensa, durante a BTL -que contou com a presença da embaixadora Inna Ohnivets - Pedro Costa Ferreira anunciou que a Ucrânia é e será nos próximos anos, o destino convidado da APAVT no espaço da Feira de Turismo de Lisboa.
À Renascença, o líder associativo frisou que essa “é apenas a ponta do iceberg”. A ideia é fazer trabalho com os agentes de viagens portugueses e ucranianos para aumentar os fluxos de turistas para a Ucrânia e de lá para cá, quando a guerra acabar.
“Sabemos que o foco mediático é temporário e os problemas vão subsistir para além desse foco. A melhor maneira é pôr turistas em solo ucraniano: porque vão gastar dinheiro e ajudar à recuperação económica de um país com um património cultural riquíssimo, algum património da UNESCO e que corre o risco de desaparecer; e porque, sendo o turismo a indústria da paz, quantos mais turistas tivermos, “menos possibilidade de guerra vamos ter”.
Mas o apoio efetivo começa já, ao nível do emprego. Depois da pandemia e em fase de recuperação, as agências de viagens voltaram a contratar. E há várias que já manifestaram interesse em ter entre os seus quadros alguns dos refugiados ucranianos, especialmente, se estiverem ligados ao setor.
“No turismo e nas agências de viagens, em Portugal como na Europa, a maioria dos profissionais são mulheres. É bem provável que estejam a chegar agentes de viagens ou gente relacionada com o turismo, que têm aqui uma possibilidade de emprego”.
O trabalho de identificação está a ser feito em conjunto com a Embaixada da Ucrânia, criando uma espécie de “bolsa de emprego”, colocada à disposição dos associados da APAVT. “A interação é a melhor ajuda”, diz Pedro Costa Ferreira.