20 mar, 2022 - 08:04 • Lusa
O comissário executivo das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril entende que o 25 de novembro de 1975 foi marcante e consolidou o processo democrático, mas hoje diz pouco à sociedade portuguesa e divide.
"O 25 de novembro de 1975, bem como outras datas, será assinalado, motivo de debate e de reflexão, mas não é uma efeméride que se possa comparar com o 25 de Abril de 1974", defende Pedro Adão e Silva em entrevista à agência Lusa.
Interrogado sobre o modo como vai ser assinalado o 25 de novembro de 1975, quando se completarem 50 anos desta operação militar, o comissário executivo começa por referir que "todos os partidos, entidades e organizações devem promover as suas próprias celebrações".
As comemorações, na sua perspetiva, "têm de ser plurais naquilo que é a iniciativa da comissão [executiva], mas também têm de ser um momento para todos fazerem as suas próprias comemorações".
"A ideia da multiplicação das comemorações é fundamental. Há temas que interessam mais a alguns partidos, associações sindicais, a regiões do país ou a conjuntos de autarquias. Não deve haver uma tentativa de uma visão daquilo que foi a nossa História, porque isso é equívoco, limitador - e limitador da própria ideia democrática hoje", sustenta.
Para Pedro Adão e Silva, o 25 de novembro de 1975, apesar de ser "uma data marcante", é também "uma data que diz pouco".
"Se queremos fazer destas comemorações um momento de falar para os jovens, teremos sempre muita dificuldade em falar do 25 de novembro. É um tema muito importante para os jornalistas, para os comentadores e para alguns políticos, mas diz pouco à sociedade portuguesa", argumenta.
Nesta entrevista, o comissário executivo advoga que "Portugal tem a singularidade de celebrar um momento que une" o seu povo, o 25 de Abril, "que foi vivido como uma festa e ao qual a larguíssima maioria da população portuguesa - independentemente de votar mais no centro-direita, à direita, à esquerda, ou centro-esquerda -- associa importantes transformações na vida coletiva, quer do ponto de vista das liberdades e dos direitos, quer do ponto de vista material e da pertença à Europa".
"Devemos concentrar-nos em celebrar aquilo que nos une e não o que nos divide", advoga o sociólogo, professor universitário e comentador político.
Para justificar a sua tese, Pedro Adão e Silva observa que o general Ramalho Eanes e o coronel Vasco Lourenço "foram os dois protagonistas centrais do 25 de novembro -- e são os próprios que dizem que não se celebra aquilo que divide, mas aquilo que une".
"Esta ideia de outros quererem celebrar muito aquilo que os próprios atores desse momento, que foi fundamental para a consolidação do processo democrático, entendem que não é o momento para celebrar, porque divide, e que devemos celebrar antes o que nos une - o 25 de Abril -, acho que isso responde", acrescenta.