25 mar, 2022 - 12:27 • Fátima Casanova , Olímpia Mairos
A Federação Europeia de Transportes e Ambiente (T&E) considera que é inaceitável a pressão que está a ser feita para uma maior produção de biocombustíveis a partir da queima de culturas alimentares, como o trigo, a cevada e o girassol.
A organização alerta que um lobby europeu dos biocombustíveis está a pressionar para uma maior queima de culturas alimentares, apesar do colapso no fornecimento de cereais oriundos da Ucrânia e da Rússia e da iminente crise alimentar global.
Segundo a federação, este não pode ser o caminho para substituir o petróleo da Rússia numa altura em que também está à vista uma crise alimentar por causa da guerra.
À Renascença Francisco Ferreira, sinaliza que “a europa transforma diariamente 10 mil toneladas de trigo, o equivalente a 15 milhões de pães, em etanol, para utilização em automóveis a gasolina”.
O presidente da Zero acrescenta ainda que “todos os anos queimamos nos nossos carros milhões de toneladas de trigo e de outras culturas para alimentar os nossos automóveis e isto é inaceitável face a uma crise alimentar global”.
Já Maik Marahrens da T&E defende que “os governos têm de parar urgentemente a queima de culturas alimentares nos automóveis para reduzir a pressão sobre os fornecimentos críticos”.
O grupo inclui os líderes das principais agências (...)
De acordo com um estudo da Federação Europeia de Transportes e Ambiente, a remoção do trigo dos biocombustíveis europeus compensaria em mais de 20% o fornecimento de trigo ucraniano em colapso para o mercado global. Em países como o Egipto, que importa mais de 60% do seu trigo, principalmente da Rússia e da Ucrânia, estes abastecimentos adicionais ao mercado resultariam na poupança de vidas.
Na quinta-feira, um grupo de Organizações Não Governamentais (ONG) europeias apelou aos governos dos vários Estados-Membros para que suspendessem imediatamente a utilização de culturas alimentares para produção de biocombustíveis, defendendo que “assegurar o fornecimento estável de energia às pessoas e à economia não deve ser feito à custa da segurança alimentar ou levar à inflação do preço dos alimentos numa espiral fora de controlo”.
Também ontem, em conjunto com as associações ambientalistas FAPAS (Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade), GEOTA (Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente) e Oikos - Cooperação e Desenvolvimento, a ZERO enviou uma carta ao ministro do Ambiente e da Ação Climática a pedir a suspensão imediata da utilização de alimentos para consumo humano e animal na produção de biocombustíveis em Portugal.