02 abr, 2022 - 09:35 • Lusa
O matemático Carlos Antunes considera que a obrigatoriedade do uso da máscara deve manter-se por mais duas semanas, mas, se a decisão política for contrária, deve haver uma "forte recomendação" para os maiores de 65 anos continuarem a utilizá-la. .
O investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa explicou, em declarações à agência Lusa, que, apesar de uma boa parte dos indicadores estarem "numa fase favorável", como o índice de transmissibilidade (Rt) e os internamentos, a incidência, a letalidade e a taxa de positividade ainda estão elevados.
"Temos uma taxa de positivos relativamente ao número testes que fazemos ainda nos 20%" e a mortalidade ainda está acima dos 20 óbitos por milhão de habitantes nos últimos 14 dias, o limiar definido pelo Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC) e a meta estabelecida pelo Governo para deixar de ser obrigatório o uso de máscara em espaços fechado.
Por outro lado, disse, citando dados do Índice Composto de Risco Pandémico, que analisa oito indicadores, entre os quais o "longo covid", o número de pessoas que teve infeção nos últimos três meses é ainda relativamente elevado ainda e isso implica cuidados primários de acompanhamento dessas pessoas.
Carlos Antunes advertiu que, apesar de as faixas etárias mais idosas, terem "uma boa cobertura vacinal e já estarem com grandes percentagens de reforço vacinal, existe sempre a probabilidade de infeção".
Exemplificou que, nos maiores de 80 anos, continuam a morrer cerca de 14 pessoas por cada 1.000 caso nos últimos 14 dias, número que baixa para três na faixa dos 70 aos 79 anos. .
"Isto significa que, se aumentarem os casos nessas faixas, os óbitos também vão aumentar e foi exatamente o que ocorreu", salientou, realçando que o aumento de óbitos que se tem verificado nas últimas semanas se deve ao aumento de casos nas faixas etárias acima dos 60 anos.
Perante esta realidade, o matemático defendeu que se deve continuar a manter a obrigatoriedade da máscara pelo menos por mais 15 dias dentro do estado de alerta que o Governo prolongou até 18 de abril.
Além disso, está a assistir-se a surtos de gripe e a "uma corrida às urgências" por outras doenças respiratórias.
"Estamos a saturar as urgências hospitalares e sabemos que, à semelhando que aconteceu nos outros invernos, o uso da máscara previne a propagação e a infeção das outras doenças respiratórias e, por esse lado, também é recomendável que continuemos a utilizar a máscara", afirmou, como forma de tentar controlar a propagação destas doenças e para evitar que continue a aumentar o número de casos nos mais idosos e mais óbitos.
Mas, defendeu, "se a decisão política for contrária", deve haver "uma forte recomendação" de que as pessoas com mais de 60 anos devem continuar a utilizar a máscara em espaços fechados.
Apontou ainda uma situação intermédia que é poder retirar-se a obrigatoriedade da máscara, com exceção dos hospitais, lares e transportes públicos, e deixar ao critério das pessoas usá-las em espaços públicos fechados.
"Esta é uma solução intermédia para aliviar a pressão psicológica de que as pessoas sentem do ponto de vista social de continuar a ser obrigada a máscara quando existem situações como as pessoas que frequentam, por exemplo, as discotecas e não são obrigadas a usar", justificou.
Em espaços públicos, só devem usar as pessoas mais vulneráveis e houver uma grande concentração de pessoas porque o nível de circulação é elevado, mas, disse, "estamos a entrar na primavera e as condições atmosféricas reduzem a longevidade do vírus e o risco de transmissão em ambiente arejados e exteriores".
Portugal registou, entre 22 e 28 de março, 70.111 casos de infeção pelo coronavírus SARS-CoV-2, 148 mortes associadas à covid-19 e um ligeiro aumento de doentes internados, segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS).