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Avenida da Liberdade

Vasco Lourenço critica a “subserviência de alguns chefes militares” e o fim do serviço militar obrigatório

20 abr, 2022 - 06:47 • Maria João Costa

Em conversa com o podcast Avenida da Liberdade, da Renascença, o capitão de Abril critica os atuais níveis de corrupção. Vasco Lourenço considera que o que seria revolucionário em 2022 era “levar à prática, a sério, os objetivos do 25 de Abril em termos de justiça social”. “É preciso saber praticar a democracia”, lembra.

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Ouça aqui o podcast Avenida da Liberdade, com o capitão de Abril Vasco Lourenço

É um dos rostos do 25 de Abril, mas no dia dos acontecimentos não estava em Lisboa e diz que essa será sempre uma das “maiores tristezas” da sua vida. Vasco Lourenço, atual presidente da direção da Associação 25 de Abril, considera a Revolução dos Cravos “a operação mais bem planeada, melhor executada e melhor conseguida que alguma vez as forças armadas portuguesas realizaram ao longo de toda a sua história”.

Em conversa com o podcast da Avenida da Liberdade, da Renascença, o coronel lembra que os “militares de abril deram lições” e um desses exemplos é o dever de “servir e não de se servir”. Lembrando que a “política é a mais nobre arte do ser humano”, sublinha que deve servir o bem comum e não para usufruto próprio.

“O que nós temos assistido com níveis de corrupção absolutamente incríveis, com situações aberrantes e apropriação de bens do Estado por pessoas individuais é inaceitável. Temos andado a mascarar. Querem lutar contra a corrupção, quando não querem nada lutar contra a corrupção”, analisa Vasco Lourenço.

O militar, que durante a Guerra Colonial serviu na Guiné, fala hoje do papel dos militares e não tem dúvidas em criticar o que diz ser “a subserviência de alguns chefes militares”. Para Vasco Lourenço, algumas chefias “já são escolhidas de acordo com isso”. Embora reconheça que os militares “dependem do poder político”, sublinha: “dependência é uma coisa, subserviência é outra.”

No atual contexto de guerra na Europa, reafirma a sua oposição ao fim do serviço militar obrigatório. No seu entender “para além de ser instrumento para criar consciência cívica”, o treino militar devia, no entender de Lourenço, “ser a última etapa da formação dos jovens”, num país como Portugal.

O telegrama em código que chegou aos Açores

Pouco antes do 25 de Abril de 1974, Vasco Lourenço tinha sido preso e enviado “contra sua vontade” para os Açores. Foi em Ponta Delgada que acompanhou a madrugada da Revolução.

Mas a notícia de que os militares iriam levar a cabo o golpe foi-lhe confirmado por um telegrama enviado em código para a casa da sogra de Melo Antunes, nos Açores.

O militar recorda que o telegrama dizia: “Tia Aurora segue Estados Unidos da América. 25.03.00. Um abraço primo António”.

Criptólogo de formação, a Vasco Lourenço bastaram estas palavras que intrigaram a esposa de Melo Antunes para perceber rapidamente que a Revolução iria começar no dia 25 às 3h00 da manhã. E assim foi. Nessa madrugada o militar estava de serviço e aguardou por algum sinal.

Ao podcast Avenida da Liberdade conta: “Num gabinete de três por cinco metros, sozinho, passeava de um lado para o outro, tipo fera enjaulada”. De rádio ligado, recorda que só dizia “é nosso ou é deles”.

Quando escutou as palavras “Aqui posto de comando do Movimento das Forças Armadas” recorda que deu por si “doidinho aos saltos a gritar ganhamos, ganhamos!”

Nos Açores preparou-se para, caso fosse necessário, dar apoio aos militares do continente. Na memória de Vasco Lourenço ficou também os dias que se seguiram e a sua viagem para Lisboa, onde Otelo Saraiva de Carvalho o esperava.

Sobre os dias seguintes à Revolução no desfiar de memórias diz que eram dias sem ir à cama. “Eram dias sem dormir porque era necessário um militar para tudo”, recorda Vasco Lourenço.

O responsável da Associação 25 de abril lembra que as “forças de segurança tinham perdido por completo a credibilidade e ninguém lhes obedecia”.

Andando para trás no tempo, ao Avenida da Liberdade, Vasco Lourenço recorda os seus tempos na Guiné, na Guerra Colonial, onde conheceu o general Spínola a quem terá dito um dia, na resposta a um convite para jantar, que “jantar só com amigos”.

Já sobre o Movimento dos Capitães, é perentório em reconhecer que foi a Guerra Colonial um dos motores para a sua formação. A primeira reunião, recorda Vasco Lourenço, aconteceu a 9 de setembro de 1973 e foi um encontro antecedido de peripécias que o coronel conta ao podcast que está disponível nas plataformas digitais, como a Popcasts do grupo Renascença Multimédia.

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  • EU
    20 abr, 2022 PORTUGAL 10:49
    " é preciso saber praticar a democracia " EU costumo dizer, quem não sabe SER que não o SEJA. " levar a sério, em 2022, os objetivos do 25 de abril ". Quantas VEZES, aqui RR, este princípio foi por mim reclamado? Quanto ao resto, ainda bem que é este Senhor a dizer, ou seja, a HISTÓRIA ainda não foi bem contada. Devo dizer, também, que não admiro este Senhor enquanto ex. Combatente.

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