23 abr, 2022 - 19:15 • Ana Carrilho
De improviso e com a habital frontalidade, Carlos Silva usou o seu último discurso como Secretário-Geral da UGT, para fazer a sua defesa da honra. Durante 21 minutos respondeu aos críticos e muito em particular ao líder fundador, José Manuel Torres Couto, mas sem nunca referir o seu nome.
Em entrevista ao Expresso, Torres Couto afirmou que a liderança de Carlos Silva foi um desastre e que quando andou nas lutas para fundar a UG, se imaginasse que uma pessoa assim a iria liderar, nunca teria fundado a central.
Mesmo sem papel, Carlos Silva desfiou todos os problemas que teve de resolver desde que chegou à UGT – há nove anos – muitos, herdados do passado. Frisou que não se arrepende de nada do que fez e que se vai embora, porque quer. “Ninguém me empurrou”.
“Quando cheguei não tínhamos uma sede nossa. Será que é um desastre termos uma sede nossa?”, questionou. Foi a primeira de muitas vezes que o ainda Secretário-Geral da UGT usou a palavra “desastre” para responder ao antigo líder e fundador da central, José Manuel Torres Couto, sem nunca pronunciar o seu nome.
E prosseguiu questionando se seria um desastre ter delegações em quase todo o país, ter apostado na formação e no trabalho das Uniões ou de ter conseguido equilibrar a situação financeira da UGT.
Recorde-se que, em entrevista à Renascença, Carlos Silva referiu que quando chegou teve algumas surpresas, mas agora a situação financeira está resolvida. A dívida de 1,8 milhões de euros está negociada e deverá ser liquidada nos próximos 20 anos.
Reagindo à acusação de ter posturas diferentes conforme os governos, o ainda líder sindical lembrou que negociou com Passos Coelho e com António Costa. E que sendo militante do Partido Socialista, nunca teve medo de assumir as suas paixões clubísticas e partidárias, mas sem nunca as trocar pelo Movimento Sindical. “Sou acima de tudo sindicalista”.
Uma intervenção em que não faltou o sublinhar da postura da UGT, sempre em defesa do diálogo e da Concertação Social. “O diálogo da UGT não é um monólogo, isso é a outra central”, afirmou, numa primeira crítica à CGTP.
Retomou-a mais tarde e de forma mais dura: o folclore não faz parte da nossa cultura. “Eu tinha vergonha de ser membro da Concertação Social e aproveitá-la só para mandar mensagens ao país através das televisões, das rádios e dos jornais. É à boleia da UGT, dos patrões e dos governos que a CGTP faz uma campanha difamatória contra nós nos locais de trabalho. Há-de ter um fim! E o que disseram e fizeram em relação á Ucrânia, é o princípio do fim”.
Carlos Silva lembrou que estes nove anos foram complicados, exigiram também sacrifícios da família e sai porque quer. “Ninguém me empurrou”. Mas também faz questão de referir que tem muito orgulho na forma como a UGT é vista na sociedade portuguesa e do trabalho que foi feito por toda a equipa.
“Não me arrependo de nada do que fiz, foi tudo com espírito de missão. O que está feito, está feito”.
Um discurso que mereceu um aplauso geral e diversas manifestações de apoio dos diversos sindicalistas que usaram da palavra a seguir. Uma em especial, de Mário Mourão, que lhe sucede no cargo e que lembrou que foi Carlos Silva que resolveu a questão do Fundo Social Europeu. Ou seja, uma herança de Torres Couto, o antigo secretário-geral que se referiu à liderança de Carlos Silva como “um desastre”.
A par de João Proença, José Manuel Torres Couto também é esperado para a sessão de encerramento, ao início da tarde. Resta saber como vai ser recebido pelos congressistas.