25 abr, 2022 - 08:06 • Cristina Nascimento
Portugal, abril de 1974. Os capitães de abril estavam em contagem decrescente para a madrugada que pretendiam que fosse o princípio da liberdade.
Os planos estavam organizados e feitos na esperança que não fossem cometidos erros do passado. Um dos pormenores considerado importante seria a transmissão de uma segunda senha musical que desse indicação aos militares de todo o país que tudo corria como previsto.
Assim, estava indicado que, às 00h20 de 25 de abril, a partir dos estúdios da Renascença, no Chiado, em Lisboa, fosse passada a música “Venham mais cinco”, de Zeca Afonso. No entanto, surgiu um problema de última hora.
“Às duas da tarde é-nos comunicado que o ‘Venham mais cinco’ estava proibido pela censura”, lembra Carlos de Almada Contreiras, capitão de Mar e Guerra e um dos capitães de abril. Perante esta proibição, impunha-se uma “mudança tática”: escolher outra música para ser a segunda senha e reescrever “o impresso que já estava feito para o país todo a comunicar como é que as coisas se desenrolavam.
É então escolhida outra canção. “Como alentejano que sou, lembrei-me do ‘Grândola, Vila Morena’ que estava um bocado também na calha”, conta à Renascença Carlos Contreiras.
Quisemos saber se a sugestão de “Grândola, Vila Morena” foi bem acolhida ou se foram pensadas outras alternativas. Carlos Contreiras não foge à questão e admite, em tom irónico, que a escolha da música não foi um processo democrático.
“Foi um plenário feito por mim, que estava sozinho, de maneira que foi uma ditadura total e absoluta”, descreve o militar, junto às antigas instalações da Renascença, na inauguração da placa que imortaliza o papel da Emissora Católica Portuguesa na revolução dos cravos.
Mais a sério, Carlos Contreiras lembra que conseguiram “manter o segredo da operação entre os militares” e realça “a colaboração com a parte civil, que são os funcionários da Rádio Renascença.
“Esta relação entre os militares e o civis foi determinante”, remata.