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Monkeypox. Vírus em circulação pertence a linhagem menos agressiva

24 mai, 2022 - 19:39 • Lusa

De acordo com os especialistas do Insa, que já sequenciaram o genoma do Monkeypox de 10 pessoas infetadas, o vírus do surto detetado este mês "está mais intimamente relacionado com vírus associados à exportação do vírus Monkeypox da Nigéria para vários países em 2018 e 2019, nomeadamente Reino Unido, Israel e Singapura".

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O microbiologista João Paulo Gomes disse esta terça-feira que o vírus Monkeypox em circulação em vários países, incluindo Portugal, onde não é endémico, pertence a uma linhagem menos agressiva com origem na África Ocidental.

"Trata-se da forma menos severa do vírus", afirmou à Lusa o investigador do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa), em Lisboa, onde a equipa que dirige sequenciou o genoma do Monkeypox na origem do recente surto, tornando Portugal o primeiro país a fazê-lo.

João Paulo Gomes, responsável do Núcleo de Genómica e Bioinformática do Departamento de Doenças Infecciosas do Insa, onde o trabalho foi feito, acrescentou que o vírus atualmente em circulação em países onde não é endémico é da linhagem do vírus em circulação na África Ocidental, onde é endémico, mas menos agressivo.

Há uma segunda linhagem do Monkeypox, da África Central, onde também é endémico, que é mais agressiva.

De acordo com os especialistas do Insa, que já sequenciaram o genoma do Monkeypox de 10 pessoas infetadas, o vírus do surto detetado este mês "está mais intimamente relacionado com vírus associados à exportação do vírus Monkeypox da Nigéria para vários países em 2018 e 2019, nomeadamente Reino Unido, Israel e Singapura".

João Paulo Gomes referiu que "potencialmente trata-se de uma introdução única" do vírus, importada, "que originou cadeias de transmissão que depois se foram disseminando por vários países".

O investigador salientou que o vírus na origem do atual surto "apareceu há muito pouco tempo", mas "está a evoluir" rapidamente, "a acumular mutações" genéticas, quando, por "características inerentes", o Monkeypox "é um vírus que tipicamente tem uma taxa de mutação mais reduzida".

"Em teoria, evolui mais do que estávamos à espera. Eventualmente mais tarde poderemos perceber que estas características genómicas podem estar associadas a uma maior transmissibilidade, ainda não sabemos", sublinhou, apontando a sequenciação genómica como uma "ferramenta fundamental de apoio à decisão de saúde pública".

Segundo João Paulo Gomes, "é importante que todos os países sequenciem, libertem as sequências" genéticas do vírus e "façam uma partilha pública" dos dados "para que rapidamente se possa construir a história deste surto, perceber qual foi o país de origem, perceber onde é que foi introduzido [o vírus] na Europa e no resto do mundo e qual foi a cronologia em termos de disseminação pelos vários países".

O microbiologista considera que "não há motivo para preocupação", mas, "acima de tudo, motivo para atuar, bloquear as cadeias de transmissão, para fazer uma vigilância forte e despistar rapidamente todos os casos suspeitos".

"Não há dúvida que durante as próximas semanas vamos ver um evoluir muito agressivo desta situação, mas as características da transmissão do vírus não fazem prever que seja muito difícil a sua contenção", sustentou, lembrando que é preciso um "contacto direto, muito próximo" para que a transmissão ocorra entre pessoas.

Ana Pelerito, técnica da Unidade de Resposta a Emergências e Biopreparação do Departamento de Doenças Infecciosas do Insa, explicou que a metodologia usada no laboratório permitiu detetar rapidamente, em três a quatro horas, o vírus Monkeypox em amostras suspeitas, possibilitando aos colegas do Núcleo de Genómica e Bioinformática sequenciarem o seu genoma.

"Sem o nosso trabalho não iríamos conseguir ser o primeiro país a fazer esta sequenciação", assinalou à Lusa.

A primeira sequência genética do vírus foi obtida no Insa a partir de uma amostra recolhida em 04 de maio de lesões na pele de um homem doente.

O Monkeypox, do género do vírus que causa a varíola, é transmitido de pessoa para pessoa por contacto próximo com lesões, fluidos corporais, gotículas respiratórias e materiais contaminados.

O tempo de incubação é geralmente de sete a 14 dias, e a doença, popularmente conhecida por varíola dos macacos, dura, em média, duas a quatro semanas.

A Direção-Geral da Saúde (DGS) recomenda às pessoas que apresentem lesões ulcerativas, erupção cutânea, gânglios palpáveis, eventualmente acompanhados de febre, arrepios, dores de cabeça, dores musculares e cansaço, a procurarem aconselhamento médico.

Em Portugal, de acordo com os dados mais recentes da DGS, foram confirmados 39 casos, todos homens entre os 27 e os 61 anos, sendo que a maioria tem menos de 40 anos e, portanto, não está vacinada contra a varíola, doença erradicada do mundo em 1980.

A vacina contra a varíola, assim como antivirais e a imunoglobulina "vaccinia" (VIG), podem ser usados como prevenção e tratamento para a Monkeypox, uma doença rara.

Fora da Europa, o vírus já foi detetado nomeadamente nos Estados Unidos, Israel, Canadá e Austrália.

A doença, que tem o nome do vírus, foi identificada pela primeira vez em humanos em 1970 na República Democrática do Congo, depois de o vírus ter sido detetado em 1958 no seguimento de dois surtos de uma doença semelhante à varíola que ocorreram em colónias de macacos mantidos em cativeiro para investigação - daí o nome "Monkeypox" ("monkey" significa macaco e "pox" varíola).

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