24 mai, 2022 - 08:04 • Anabela Góis com redação
A taxa de mortalidade materna atingiu em 2020 os 20,1 óbitos por 110 mil nascimentos, o nível mais alto dos últimos 38 anos. A Direção-Geral da Saúde está a investigar.
Dezassete mulheres morreram devido a complicações da gravidez, durante o parto ou no puerpério (42 dias após o parto).
Segundo as séries do Instituto Nacional de Estatística (INE) uma taxa superior de mortalidade materna foi registada em 1982, com 22,5 óbitos por 100 mil nados-vivos.
"Quando se mantém ao longo de vários anos começa a ser uma situação preocupante", diz o diretor do departamento de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital de Santa Maria, que integra a Comissão de Acompanhamento da Mortalidade Materna. "A primeira coisa a fazer é investigar aprofundadamente qual é a causa, pois só assim se podem ter soluções. Precisamos de fazer esta avaliação com seriedade e de forma sistemática, como muitos outros países europeus fazem, avaliar de uma forma confidencial estas situações trágicas", defende em declarações à Renascença Diogo Ayres-de-Campos.
O que
poderá justificar estes números?
“Há três hipóteses possíveis: temos tido mais
grávidas que vêm de países africanos de expressão portuguesa, que às vezes vêm em
situações mais complicadas; também temos tido um maior número que mulheres com
doenças graves que se aventuram na gravidez; pode ser devido a alguma degradação
dos cuidados obstétricos a nível nacional, não só ao nível das instalações,
como também de algumas dificuldades nas equipas.”
Para o médico, "os cuidados obstétricos, que se degradaram, têm de ser repensados".
A Direção-Geral da Saúde (DGS) está a investigar o aumento da taxa de mortalidade materna em Portugal, uma tendência que se tem verificado nos últimos cinco anos.
Em declarações à Renascença, Susana Santo, presidente da Comissão Multidisciplinar de Acompanhamento da Mortalidade Materna, da DGS, diz que neste momento decorre a investigação com contactos nos hospitais onde ocorreram os óbitos.
A comissão multidisciplinar para estudar e acompanhar as mortes maternas e a morbilidade materna grave inclui peritos de obstetrícia, medicina interna e anestesiologista, entre outros.
"Desde o início deste ano, foi atribuída prioridade de codificação às mortes maternas, para que o processo de investigação através de um inquérito epidemiológico possa ser o mais célere possível para garantir maior qualidade da informação necessária ao estudo e investigação do fenómeno", refere a DGS, citada pelo JN.
Refere igualmente que está ainda a "ser estudada a forma de vir a implementar, no futuro, um instrumento de monitorização dos episódios de morbilidade materna grave".
O aumento da mortalidade materna já levou o Bloco de Esquerda a requerer uma audição com carácter de urgência da diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, e do presidente da Associação Europeia
de Medicina Perinatal, Diogo Ayres-de-Campos.