25 mai, 2022 - 06:44 • Lusa
Os dois anos de pandemia de Covid-19 fizeram disparar o numero de beneficiários do Programa abem:, que garante a compra de medicamentos prescritos a quem não tem possibilidades financeiras, e neste momento são já mais de 28 mil.
Segundo disse à agência Lusa Maria João Toscano, diretora executiva da Associação Dignitude, promotora do Programa abem: Rede Solidária do Medicamento, houve "um acréscimo desmesurado de novas famílias" e, nos anos de 2020 e 2021, entraram mais de 7.000 novos beneficiários.
"Tivemos nas primeiras fases de pandemia um despedimento grande, muitas empresas a fecharem, muitas situações de pessoas com trabalhos em que a empresa é apenas a própria pessoa e que tiveram de fechar, ficando sem qualquer tipo de recurso para fazer face às suas despesas, nomeadamente em medicamentos", contou.
A responsável destaca este aumento de beneficiários e reconhece que, para uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) como a Dignitude, apesar da dispersão em termos nacionais, significa "alocar um número muito grande de pessoas para apoiar".
"Esta é uma situação que ainda não terminou e é previsível que este crescimento se mantenha", admite, alertando: "Vamos ter agora o término das moratórias e muitas outras responsabilidades que as pessoas puderam obviar - com os "lay-off" -, levam agora a uma reorganização de todo o tecido empresarial, com impacto que resulta muitas vezes em despedimentos".
A responsável sublinha que há o risco de mais famílias ficarem "sem rede" para fazer face a uma situação essencial como o acesso ao medicamento para controlo da doença.
Maria João Toscano explicou à Lusa que o Programa abem: constituiu um fundo solidário autónomo que recebe donativos da sociedade civil, de parceiros da associação e de empresas e "só utiliza estes donativos para cocomparticipacão de medicamentos".
Sendo beneficiário do programa abem:, na compra de medicamentos, a parte que cabe ao utente pagar é garantida por este fundo, que a responsável reconhece que tem sempre de estar a ser alimentado.
"Estamos agora com uma campanha, que se chama "um euro abem", junto da população, através das farmácias aderentes dispersas pelo país, porque temos de estar de forma sistemática a renovar aquilo que nos dão para fazer face a este crescimento desmesurado de beneficiários", explicou.
Nesta campanha, os portugueses são convidados a doar 1Euro ao Fundo Solidário abem: nas idas à farmácia. Todos os donativos recolhidos serão exclusivamente utilizados para garantir o acesso aos medicamentos prescritos e comparticipados a quem mais precisa.
"Não nos podemos esquecer que estamos a falar de franjas da população que são os mais pobres dos pobres. São aquelas pessoas que têm de escolher entre comprar o alimento de que necessitam ou o medicamento. E nós sabemos qual é a opção que vão tomar", afirmou.
Quanto aos beneficiários do Programa abem:, diz que cerca de 32% são pessoas com 65 anos ou mais, 12% são crianças, mas mais de metade (56%) são pessoas em idade ativa, entre os 18 e os 64.
"Temos muita gente que está empregada, mas um dos elementos deixou de trabalhar e não conseguem fazer face a esta necessidade. O facto de trabalharmos diariamente e quando chegamos ao fim do dia não conseguimos fazer face àquilo que são despesas essenciais e exigentes, mas que não são grandes, para contribuir para a melhoria da nossa saúde, é algo muito constrangedor", frisou.
O Programa abem permitiu em cinco anos uma poupança estimada de 15 milhões de euros no Serviço Nacional de Saúde
O estudo, que avaliou o impacto do programa, conclui também que, sem o contributo deste projeto, mais de 6.220 pessoas teriam de pedir dinheiro emprestado ou pedir ajuda a familiares.
O trabalho, que abrangeu o período entre maio de 2016 (quando arrancou o projeto) e junho de 2021, aponta para a melhoria da condição de saúde dos beneficiários do projeto devido ao cumprimento da terapêutica garantido pelo acesso aos medicamentos prescritos.
"O que suspeitávamos e que se concretizou foi que, ao nível dos beneficiários, o programa tem um impacto relevante na melhoria das condições de saúde nos mais de 22.000 beneficiários apoiados, pois conseguem, através do cartão abem, adquirir a sua medicação, cumprindo a sua terapêutica e, desta forma, melhorar a sua condição de saúde", explicou à Lusa Maria João Toscano, diretora executiva da Associação Dignitude.
Exemplificando em números a mudança que o Programa abem: trouxe para estas pessoas, a responsável adianta: "A percentagem de beneficiários que nem sempre compra os medicamentos prescritos passa de 61% para 5% depois de terem o cartão abem, o que é, de facto, muito relevante".
"Isto leva também a um impacto ao nível da sua qualidade de vida, pois evita cortes em despesas que são essenciais", explica, acrescentando: "Aí, a percentagem de beneficiários que deixavam de pagar outras despesas para comprar medicamentos antes de terem o cartão passou de 85% para 14%".
De acordo com o estudo, 10.902 beneficiários consideraram ter melhorado o seu estado de saúde desde que têm o cartão abem e 15.796 passaram a conseguir pagar outras despesas desde que são beneficiários deste programa.