26 mai, 2022 - 10:08 • Inês Braga Sampaio
É o momento de reconhecer e investir na importância da rede informal em momentos de crise e não só, defende Rita Valadas, da Cáritas Portuguesa.
Na conferência "Pós-Pandemia, Recuperação e Resiliência do Pilar Social em ano de descentralização de competências", em Vila Nova de Gaia, esta quinta-feira, esta responsável salientou que a rede informal não existe porque há crise. "Existe e responde à crise", assinalou.
"Isso é o que permite à rede informal responder mais rápido do que a rede formal. Foi o que aconteceu na pandemia, como está a acontecer noutras situações agora. A rede informal é o olhar de quem está próximo, que consegue ver o que está a acontecer com mais facilidade do que quem está longe e a olhar para as coisas na sua globalidade. É o momento do reforço da importância da rede informal", sustentou.
Rita Valadas acredita que a o apoio social deve ser cada vez mais adaptado às pessoas e às necessidades de cada um. Importam "a proximidade com propósito capilar, o propósito social, a experiência no terreno, o conhecimento do território e a complementaridade".
"Haja uma qualquer crie, a rede informal está lá. Seja de cariz social, económico ou imobiliário", apontou.
Rita Valadas destacou, ainda, a importância da saúde mental, um problema que se evidenciou nos jovens mas "é transversal a todos os problemas complexos que não conseguimos resolver".
"Quando vamos atrás dos problemas para os resolvermos, embatemos sempre na necessidade de fazermos intervenção numa saúde mental comunitária. Durante este tempo de pandemia houve algumas possibilidades de ler perto e de fazer congregação positiva que não tinha existido. A Cáritas viu juntar-se com vontade de agir e participar muitos jovens", enalteceu.
Neste momento, há um movimento europeu de criação da Cáritas Jovem, revelou a responsável, pois os jovens "querem ser eles a participar com o seu olhar". Rita Valadas acredita que é crucial integrar a visão dos mais novos no apoio social.
"Nós gostamos de ensinar os jovens, mas eles também têm muito para nos ensinar. Integrar os jovens no nosso olhar e ler com os olhos um bocadinho zangados, às vezes, que dizem 'este é o mundo que vocês nos vão deixar', mas de quem quer participar. Perto e longe e a todos os níveis, é preciso contar com todos os recursos que nós temos", reforçou.
Se houver um aumento dos rendimentos, poderemos interromper ciclos viciosos. Quando falamos em recuperação e resiliência é porque ainda não temos encontrado caminhos para as respostas sociais.
Quando se fala no abono de família, esquece-se que hoje em dia é tudo menos um apoio à natalidade. Estamos a furtar-nos de olhar de frente o problema. Não é porque já estão instalados determinados instrumentos que os devemos perpetuar.
Não é só o salário, não é só a habitação. Era muito simples se todos os problemas sociais tivessem uma solução associada. Vejo com esperança a aproximação que a transferência de competências vai trazer.
A responsável da Cáritas acredita que um aumento dos rendimentos poderá "interromper ciclos viciosos", mas que falta encontrar os caminhos necessários para as respostas sociais.
"Estamos a furtar-nos de olhar de frente o problema. Não é porque já estão instalados determinados instrumentos que os devemos perpetuar", considera.
Por isso, Rita Valadas vê "com esperança" a transferência de competências da descentralização, que trará uma "maior aproximação" às soluções necessárias.