07 jun, 2022 - 06:50 • Lusa
Portugal é o segundo maior exportador mundial de carne de tubarão e o sexto maior importador de carne de raia em termos de volume, alerta a associação ambientalista ANP/WWF, que teme o fim das espécies.
A propósito do Dia Mundial dos Oceanos, que se assinala na quarta-feira, a Associação Natureza Portugal (ANP), que trabalha em parceria com a internacional "World Wide Fund for Nature" (WWF), lança um mapa interativo e alerta para os impactos da sobrepesca das espécies.
Ana Henriques, especialista da associação que desenvolveu o trabalho, diz citada num comunicado que há claramente "sobre-exploração", que tem "repercussões no equilíbrio, produtividade, resiliência e capacidade do oceano para mitigar os efeitos das alterações climáticas". .
"Os tubarões e raias são muito mais importantes no oceano do que no nosso prato. Para reverter esta situação, precisamos urgentemente de desenvolver e implementar um Plano Nacional de Ação que os proteja, tal como foi prometido pelo anterior Governo", acrescenta.
A ANP/WWF diz no mesmo documento que a cada minuto são pescados em todo o mundo 192 tubarões e raias, colocando em causa não só a sobrevivência das espécies como a boa saúde dos oceanos, os quais são o tema de uma segunda conferencia mundial da ONU e que se realiza em Portugal no final do mês.
No mapa interativo a associação explica as rotas do comércio global dos principais produtos à base de tubarões e raias (carne e barbatanas), e o impacto causado por Portugal no estabelecimento de pontes comerciais entre grandes importadores e exportadores, como o Brasil, Itália, Espanha e Namíbia.
"O comércio mundial à base de tubarões e raias está a esgotar estas espécies, e movimenta mais de quatro mil milhões de dólares anualmente, envolvendo mais de 190 países ou territórios. O valor resultante do comércio de carne de tubarão e raia é atualmente quase o dobro do valor do comércio das suas barbatanas, apesar destas terem muito mais atenção mediática", diz Ângela Morgado, diretora executiva da ANP|WWF, também citada no comunicado, no qual salienta ainda que se trata de um tipo de comércio pouco regulado e "não transparente".
Segundo os dados da organização, Espanha é o principal parceiro comercial de Portugal no que toca a tubarões e raias: 95% das importações de carne de raia vêm de Espanha e 75% das exportações de Portugal de carne de tubarão vão para Espanha. .
Protegendo-se tubarões e raias em Portugal tal irá afetar toda a rede comercial global, explica Ana Henriques, defendendo assim a criação de um Plano de Ação Nacional para a Gestão e Conservação dos Tubarões e Raias.
A ANP/WWF reconhece que o papel de Portugal é essencialmente de exportação, especialmente de tubarões, mas salienta que o consumo também acontece, por vezes de forma escondida, com nomes como cação, tintureira e pata-roxa. Sem contar com outros usos para produtos à base de tubarão e raia, seja na cosmética, suplementos alimentares e mesmo para decoração.
Das 1.200 espécies de tubarões e raias conhecidas "mais de 36% estão ameaçadas", sendo este o segundo grupo, depois dos anfíbios, com mais espécies ameaçadas de extinção do planeta, alerta a organização ambientalista.
No ano passado a ANP/WWF já tinha apresentado um relatório (Guardiões do Oceano em Crise) no qual apontava para a necessidade de adoção de medidas que minimizem as principais ameaças às espécies, a nível da pesca e comércio, assim como de reforçar questões de governança.
E alertou que das 117 espécies que se conhecem nas águas portuguesas, quase metade se encontra já ameaçada.
O Dia Mundial dos Oceanos, este ano sob o tema "Revitalização: Ação Coletiva para o Oceano", foi decretado em 2008 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, para sensibilizar o mundo para a importância dos oceanos.