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Especialista alerta

Cancro. Falta de rastreios durante pandemia vai "aumentar mortalidade" nos próximos anos

09 jun, 2022 - 00:58 • André Rodrigues

Vítor Rodrigues foi presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro nos primeiros tempos da pandemia e reconhece que a não realização de milhares de rastreios oncológicos, por causa da redução da atividade não Covid, vai ter consequências. Como reverter a situação? "Com o pontapé que o SNS levou verificamos que, realmente, está a ser muito difícil fazer essa recuperação", reconhece.

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A dificuldade no acesso aos rastreios oncológicos durante a pandemia vai ter efeitos na mortalidade daqui a três, quatro ou cinco anos, admite o antigo presidente da Liga Portuguesa contra o Cancro (LPCC).

O alerta é feito na Renascença por Vítor Rodrigues no dia em que o Tribunal de Contas (TdC) divulga uma auditoria sobre a resposta do SNS aos doentes oncológicos entre 2017 e 2020.

Nesse período, o TdC concluiu que o crescimento da atividade cirúrgica no SNS (4,8%) não chegou para o aumento da procura (6%).

Na análise ao período pandémico, na comparação com 2019, houve em 2020 uma quebra global de 4,3% de novas inscrições de utentes para cirurgias oncológicas, sendo que abril (menos 41%) e maio (menos 35%) foram os meses com quebras mais significativas, na comparação com os respetivos períodos homólogos.

Já ao nível dos rastreios, o relatório de auditoria do TdC indica que a diminuição da atividade não Covid no SNS resultou na realização de menos 54% de rastreios do cancro do colo do útero, menos 46% de rastreios da mama e menos 38% nos rastreios de cancro do colon e reto em relação a 2019.

A consequência desse cenário, diz Vítor Rodrigues - que atualmente preside ao Núcleo do Centro da LPCC - será um aumento significativo da mortalidade por cancro nos próximos anos.

Segundo este responsável, "existem bastantes pessoas que começaram a chegar aos hospitais, nalguns casos, com metástases que, vulgarmente, não existiam. Se falha a simbiose entre diagnóstico precoce e tratamento precoce, a consequência não é boa e vai levar a alguma diminuição da sobrevivência e a algum aumento da mortalidade".

E esse aumento já se nota, desde já? Vítor Rodrigues admite que, apesar de ainda não serem conhecidos todos os dados oficiais, "empiricamente, nota-se bastantes casos em que isso está a acontecer e, quantitativamente, com alguma importância".

Nesse quadro, este especialista considera altamente provável que, "quando tivermos os dados com a caracterização da incidência, daqui a um ou dois anos, e, depois da mortalidade, daqui a três, quatro ou cinco anos, vamos assistir a esse fenómeno".

Face aos problemas detetados na assistência aos doentes oncológicos no período pandémico, o TdC recomenda a adoção de um plano quantificado e calendarizado de toda a atividade não realizada.

A questão é: com que meios, sobretudo humanos?

Vítor Rodrigues lamenta que o investimento em recursos humanos esteja aquém das necessidades, o que dificulta a concretização das metas.

"Há uma fuga enorme de profissionais do público para o privado. Por exemplo, o diretor do IPO de Lisboa está há muito tempo a dizer que não tem pessoas suficientes. Além disso, tenho visto, em termos globais, uma grande dificuldade de adaptação das nossas autoridades de saúde para conseguir corrigir, porque as instituições não têm maleabilidade operacional que lhes permita, o mais possível, responder aos problemas", diz.

Tendo em conta que, já antes da pandemia, o SNS enfrentava problemas de escassez de pessoal, "com o pontapé que o SNS levou [durante a pandemia], verificamos que, realmente, está a ser muito difícil fazer essa recuperação".

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