11 jun, 2022 - 00:30 • Inês Braga Sampaio
O secretário-geral do Sindicado Independente dos Médicos (SIM), Jorge Roque da Cunha, avisa que será muito difícil para o Hospital de Santa Maria e para a Maternidade Alfredo da Costa serem alternativas eficazes aos serviços de urgência de obstetrícia e ginecologia encerrados na região da Grande Lisboa durante o fim de semana.
A falta de clínicos obriga ao encerramento das urgências das duas especialidades em quatro hospitais da Área Metropolitana de Lisboa: São Francisco Xavier, Beatriz Ângelo (Loures), Garcia de Orta (Almada) e o Hospital de Setúbal. Em entrevista à Renascença, Roque da Cunha admite que "muito dificilmente" as alternativas conseguirão dar resposta.
"A generalidade desses hospitais da Área Metropolitana de Lisboa, como em Beja, em Évora, no Litoral Alentejano e no Algarve, as escalas de urgências estão abaixo dos mínimos, portanto já são situações que estão no limite. Neste momento, estão em contingência, isto é, não recebem grávidas de outros locais, o Hospital Beatriz Ângelo, o Hospital Fernando da Fonseca e o Hospital Vila Franca de Xira. Pelo menos esses. Estando esses em contingência, naturalmente que o Santa Maria e a Maternidade Alfredo da Costa, só por si, não têm capacidade de responder", alerta.
Urgências da especialidade dos hospitais São Franc(...)
O encerramento dos serviços de urgências dos quatro hospitais em causa não surpreende o SIM, que ainda na quinta-feira alertou o Ministério da Saúde para os "serviços críticos de obstetrícia" na região de Lisboa, uma situação que "tem sido recorrente". Roque da Cunha adverte, ainda, que o problema não se cinge às especialidades de obstetrícia e ginecologia.
"De alguma maneira, já ocorre na ortopedia, por exemplo, do Hospital Garcia de Orta. Ainda em Leiria, muito recentemente, a urgência de ortopedia também teve essa limitação, esteve encerrada. No Algarve estivemos sem pediatria durante este mês que se passou, mais de metade dos dias não houve urgência de pediatria", relata o sindicalista.
Roque da Cunha também destaca que o problema já se alastrou por todo o país, apesar de haver "uma pressão um pouco maior em Lisboa por causa do número da população e do número de pessoas sem médico de família":
"É uma situação geral e que necessita de respostas globais. A Maternidade de Portimão praticamente não existe, Faros vários dias está sem capacidade de resposta. Muito recentemente, uma dezena de médicos entregou minutas de exclusão de responsabilidades. Beja e Évora, já de si, cronicamente são mais os dias que não estão abertos do que aqueles em que estão abertos. Para não falar da Guarda, Covilhã. A situação, a nível dos serviços de urgência não se cinge a Lisboa."
Uma grávida perdeu o bebé alegadamente por falta d(...)
O diretor-geral do SIM sublinha que "não é possível pedir mais trabalho" aos médicos e lembra que o Tribunal de Contas avisou que se mantém o "sub-financiamento crónico" do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Portanto, Roque da Cunha considera que a situação "exige medidas", de forma a que o SNS consiga atrair mais médicos e retê-los.
"O fundamental é que o Ministério da Saúde reconheça que tem um problema, que crie as condições para contratar obstetras, investindo no SNS. Numa palavra, governar. Com maioria absoluta por quatro anos, não há desculpas para que não se procure soluções para uma situação naturalmente complexa, mas que tem soluções", salienta.
O SIM, que diz ainda esperar as consequências da reunião que teve com a ministra da Saúde, Marta Temido, no início da legislatura, tem algumas propostas para contornar a atual situação de escassez de médicos.
Uma delas é a existência de médicos que dediquem as suas 40 horas exclusivamente aos serviços de urgência: "Há médicos que assim querem, têm essa formação, têm essa capacidade e essa possibilidade."
Outra é que haja períodos de três ou seis meses em que um médico de uma determinada especialidade faz o seu horário completo no serviço de urgência, sem ter de conciliar com consultas ou enfermaria.
"Com certeza que sendo alguém da casa tem uma melhor capacidade de solução e de integração em equipas. Bem como, e isso era muito importante, que pelo menos o trabalho extraordinário fosse pago, pelo menos, a valores semelhantes aos que o próprio Estado paga às empresas", frisa Roque da Cunha, em entrevista à Renascença.