27 jun, 2022 - 06:47 • Lusa
Os portugueses vão ter de se habituar a viver com menos água, alerta o ministro do Ambiente, que deixa também um aviso: o Governo "não tem qualquer tipo de limitação na aplicação de restrições" de consumo.
Em entrevista à Agência Lusa, numa altura em que o país vive uma das maiores secas de que há registo, Duarte Cordeiro salienta que o mais importante é haver água para consumo das pessoas. "Não vale a pena, quem promove determinado tipo de investimentos ou infraestruturas, não ter em consideração que a água é um recurso escasso. E não temos qualquer tipo de limitação na aplicação de restrições quando tal é necessário. É o que temos feito", disse Duarte Cordeiro, avisando que quem investe sem ter em conta a escassez de água pode ter consequências.
E acrescentou: "É importante explicar que vamos ter que nos habituar a viver com menos água, todos, as atividades agroindustriais também, os setores económicos, e temos todos que olhar para aquilo que são as oportunidades que temos".
Respondendo em concreto aos campos de golfe, o ministro pede aos investidores que olhem para o território e se salvaguardem. "Setores económicos que precisam de água é bom que invistam naquilo que lhes permite ter água, que é captações no mar, águas reutilizáveis, aproveitar a eficiência... têm mesmo de o fazer não e uma questão de escolha."
Numa entrevista focada na água, e a propósito da Conferência dos Oceanos da ONU que arranca, esta segunda-feira, em Lisboa, Duarte Cordeiro salientou por diversas vezes que os portugueses têm de aprender a viver com menos água, e deu como bom exemplo o aproveitamento das águas residuais, que no Algarve já representa um hectómetro de água, usada para regar campos de golfe e algumas culturas, havendo "a possibilidade de durante este ano" se duplicar o aproveitamento, para chegar a 2025 com oito hectómetros cúbicos de água residual.
"O nosso objetivo é procurar chegar a 20%, até 2030, de utilização de água reutilizada para diferentes usos, que implica a agricultura, que é um grande consumidor de água", a indústria e a utilização urbana, para lavagem de ruas por exemplo. "Há um espaço de crescimento muito grande para as águas de reutilização", afiançou.
O aproveitamento das águas no Algarve faz parte do Plano de Eficiência Hídrica, que tem associado no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) 200 milhões de euros. Além da reutilização de águas prevê, no essencial, a ligação do Pomarão a Odeleite e a construção de uma central de dessalinização, um projeto "com avisos a serem lançados".
Duarte Cordeiro explicou que em fase final (este mês ou início de julho) está também o Plano de Eficiência Hídrica do Alentejo, o que, com o Algarve e o Médio Tejo, completa as três regiões onde o Governo quer, neste mandato, "projetos de natureza estrutural".
Nas águas para reutilização, disse Duarte Cordeiro, o objetivo é estender o mais possível o aproveitamento, agilizando se possível o licenciamento, para "maior rapidez e generalização de usos".
No reaproveitamento das águas residuais, disse Duarte Cordeiro, há "muitos municípios interessados".
As estações de tratamento, lembrou, são agora "fábricas de água". E "é mesmo disso que se trata".
O Governo vai colocar em discussão em setembro três propostas para colmatar a falta de água no Médio Tejo, uma delas contemplando uma ligação entre os rios Zêzere e Tejo na zona de Cabril, disse o ministro do Ambiente e da Ação Climática.
Em entrevista à Agência Lusa, Duarte Cordeiro explicou que a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) está a concluir um estudo de "reforço da resiliência" nas zonas do Médio Tejo, onde há habitualmente problemas de falta de água, o qual deve ser colocado em consulta pública no mês de setembro.
O ministro afirmou que a APA vai colocar uma avaliação ambiental estratégica, esperada em setembro, para discutir uma de três opções: uma ligação entre o Zêzere e o Tejo na zona da barragem de Cabril, "aproveitando o final da concessão da barragem", fazer no rio Ocreza uma nova barragem, ou uma "solução mista".
No ano passado o anterior ministro da pasta, João Pedro Matos Fernandes, já tinha admitido a possibilidade da construção de um túnel de 50 quilómetros entre a barragem de Cabril e Belver, sem transvases, para colocar mais água no rio Tejo. E que a outra solução seria o reforço de capacidade armazenada, em barragem, no rio Ocreza.
Em abril deste ano o PSD já tinha questionado Duarte Cordeiro sobre o estudo da APA, lamentando que nunca tivesse sido apresentado.
Duarte Cordeiro anunciou agora que as propostas devem ser apresentadas em breve, todas "salvaguardando sempre a hierarquia dos usos, que é a salvaguarda da água para consumo humano", e todas no sentido de libertar água para o rio Tejo, sempre que haja necessidade.
O ministro considera importante ouvir autarcas, associações e "todos os atores".
"Queremos ser rápidos", disse, acrescentando: "Diria que este ano é o ano em que se inicia a avaliação ambiental estratégica e o próximo ano já será de concretização de soluções e de início de procedimentos associados as opções que são tomadas".
No Algarve, no Alentejo e na região Centro, três e(...)