08 jul, 2022 - 01:26 • Isabel Pacheco
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Natália Correia é diretora da secundária de Fafe. Uma escola em que os alunos são “heróis”, confidencia à Renascença a responsável pelo estabelecimento de ensino.
Numa altura em que o Ranking das Escolas de 2021 foi divulgado, a diretora descreve um contexto social e económico difícil. “Ouço cada situação que digo: estes alunos são uns heróis quando chegam à escola. Eles são heróis”, garante a professora.
Cerca de metade dos 1.200 estudantes beneficia do apoio social escolar, o que reflete a “fragilidade socioeconómica do concelho”, onde há famílias que não conseguem assegurar aos filhos todas as refeições.
“Reparamos que há alunos que não tomam o pequeno-almoço. Mas eles têm aqui o pequeno-almoço. Ninguém sabe. Só sabe o funcionário do bufete”, conta Natália Correia.
Na maior parte das vezes, o trabalho é feito no “silêncio”, “sem ondas”, revela a diretora, que fala num “agravamento das situações” por causa da pandemia.
Muitas das repostas sociais chegam em articulação com as instituições locais. “Sozinhos não conseguíamos”, garante Natália Correia, que dá o exemplo de uma família de dois alunos que só encontrou a estabilidade após a intervenção da autarquia.
“Há dias tive conhecimento de dois meninos com dificuldades em que só o pai trabalhava. São três filhos. Assim que tive conhecimento falei com a autarquia e, de repente, a mãe já tem trabalho. Neste momento aquela família está estável. Acho que os meninos já têm condições”, revela.
Para o apoio imediato aos estudantes, a escola criou um gabinete próprio. Maria Aureliana integra a equipa que quer dar uma ajuda suplementar aos jovens. “Muitos, só querem desabafar”, adianta a professora de História.
“Ultimamente o que tem chamado mais atenção não são os problemas económicos, mas, sobretudo, psicológicos, de ansiedade. Os alunos procuram muto o gabinete até para conversarem.”
“Sente-se muito as falhas da família. O facto de haver famílias destruturadas. Esses miúdos têm muita necessidade de apoio”, conclui.
Mas, também, os pais encontram um suporte na comunidade escolar. Em horário pós-laboral, os encarregados de educação têm a possibilidade de receber formação quer na área da economia como na gestão de conflitos.
“Uma das estratégias foi trazer os pais à escola e aumentar, cada vez mais, a vinda deles. Quando vêm à escola aproveitamos, nem que seja meia hora, para que eles possam estar com a nossa psicóloga e ouvir um professor de economia ou de gestão de conflitos para saibam lidar melhor com os filhos e gerir melhorar a sua vida familiar”, explica a responsável pela direção da Secundária de Fafe.
Natália Correia reconhece que as estratégias adotadas nos últimos anos pela escola podem não resolver todos os problemas, mas a professora acredita que fazem a diferença no rendimento escolar dos alunos.
“Não podemos olhar para o aluno e não pensar que atrás dele não há um contexto. Sempre que existe um comportamento menos adequado à escola por parte do aluno vamos encontrar contextos complicados e difíceis”.
Oitenta e seis por cento dos alunos com apoio social da Escola Secundária de Fafe concluíram o ensino em três anos. Indicador que coloca o agrupamento de escolas com um dos três do país com maior nível de equidade, isto é, como sendo um dos que levam os alunos carenciados mais longe.