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Gás produzido a partir do lixo entra pela primeira vez na rede em Portugal

19 jul, 2022 - 16:28 • Lusa

Projeto inovador está em curso em Mirandela, no distrito de Bragança. Aproveitamento do gás produzido pelo lixo já gerou uma "poupança de dois milhões de euros", revela presidente da Resíduos do Nordeste.

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O biogás produzido a partir de resíduos depositados em aterro sanitário entrou esta terça-feira, pela primeira vez, na rede de abastecimento em Portugal, através de um projeto inovador em curso em Mirandela, no distrito de Bragança.

O ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, assistiu à primeira injeção de biometano na rede de gás natural, na Unidade Autónoma de Gaseificação (UAG) do Cachão, em Urjais, no chamado Parque Ambiental, onde se encontra o aterro sanitário do Nordeste Transmontano.

O governante salientou a inovação deste projeto desenvolvido pela empresa intermunicipal Resíduos do Nordeste e o grupo Dourogás, cujos cerca de 80 clientes domésticos e as empresas do antigo complexo do Cachão serão os primeiros em Portugal a ser abastecidos por este gás renovável.

"É muito importante que tenha acontecido aqui porque é sinal de que nós temos por todo o país, em todas as regiões, em particular neste território, uma enorme capacidade de inovação e de cooperação regional que permitiu que um momento extraordinário como este aconteça nesta região", afirmou o ministro.

Duarte Cordeiro vincou que "este projeto cruza vários objetivos estratégicos" para o país, pois aproveita os biorresíduos, a capacidade dos aterros na produção de biogás e a transformação deste em gases renováveis", que irão reduzir a dependência nacional da importação de gás.

O Governo, como indicou, pretende generalizar projetos como o de Mirandela, através de incentivos aos municípios, nomeadamente a devolução de parte das taxas de gestão de resíduos em aterro ou vir a financiar a tonelada de resíduos recolhidos.

O Nordeste Transmontano foi pioneiro, há quase 30 anos, na criação de um aterro comum, quando ainda se falava de lixo, que passou depois a ser tratado por resíduos e atualmente é um recurso natural, como salientou Paulo Praça, diretor da Resíduos do Nordeste.

O aterro sanitário, que serve 13 concelhos, transformou-se num Parque Ambiental, com uma central de triagem que separa todo o lixo mesmo o chamado indiferenciado, e há mais de uma década que produz biogás com o que ali fica depositado.

O aproveitamento do gás produzido pelo lixo já gerou uma "poupança de dois milhões de euros", de acordo com o presidente da Resíduos do Nordeste, Hernâni Dias, que disse que as receitas do fornecimento à Dourogás para injeção na rede serão variáveis e ainda sem estimativa.

A Resíduos do Nordeste, segundo disse, tem em curso investimentos na ordem dos sete milhões de euros para se tornar autossuficiente em termos energéticos, nomeadamente através de projetos como os painéis fotovoltaicos em que estão a ser investidos 500 mil euros.

Desde 2011 que no monte de Urjais, onde se encontra o aterro, está instalada uma unidade da Dourogás de abastecimento de gás natural a veículos, à qual se junta agora o equipamento que faz a limpeza do biogás do aterro e transforma em biometano para ser substituto do gás natural, como explicou Nuno Moreira, do grupo.

Segundo disse, os próximos tempos servirão para "fazer ensaios nos equipamentos, para perceber se, até ao final do ano, será possível chegar a 100% de gás renovável nesta rede" instalada no centro do Nordeste Transmontano.

O grupo tem outro projeto do género em Loures, "pronto a ser inaugurado, em setembro", que vai produzir cerca de quatro vezes mais do que o de Mirandela e permitirá abastecer o equivalente a "cerca de 40% das viaturas da Carris".

Este, como outro projeto em Bragança, desenvolvem-se nas Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR).

O equipamento de Mirandela abastece, sobretudo os camiões do lixo da Resíduos do Nordeste, outros veículos pesados que passam no local, a própria frota de logística do grupo, e também viaturas ligeiras de turistas e emigrantes.

A fatura dos clientes ainda não vai refletir as valências do biometano, que neste momento é mais barato do que o gás natural, como constatou o responsável técnico da Dourogás, que soma mais de 1,5 milhões de euros de investimento na unidade do Cachão.

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