20 jul, 2022 - 07:00 • Rosário Silva
O antigo bastonário da Ordem dos Médicos Pedro Nunes sublinha, em entrevista à Renascença, a necessidade de “reestruturar e revitalizar” o Serviço Nacional de Saúde (SNS).
No dia em que o estado da Nação vai a debate, a saúde volta a estar no centro das atenções e Pedro Nunes destaca a “falta de recursos humanos médicos” como um dos mais graves problemas do SNS.
“Há uma escassez muito grande e uma competição pelos recursos humanos médicos, até mesmo no enquadramento europeu e que faz com que muitos profissionais saiam de Portugal”, realça.
O SNS tem responsabilidades, nomeadamente na área da urgência, "que mais ninguém assume”. Por isso, tem que “haver um esforço do Governo no sentido de dotar o SNS dos meios humanos e materiais que necessita”, defende o antigo bastonário.
Pedro Nunes reconhece que a questão é complexa, podendo a sua resolução passar, entre outras medidas, pela “melhoria da remuneração dos médicos e pela atração para o SNS”.
Questionado pela Renascença sobre a medida incluída no Orçamento do Estado para 2022 que permite a contratação de médicos não especialistas para os centros de saúde, o ex-bastonário diz que “não faz nenhum sentido”.
“Os médicos de família foram uma conquista do SNS. Não é uma vantagem dos médicos, é uma vantagem do SNS”, atesta.
O antigo administrador do Centro Hospitalar do Algarve destaca que “um médico especialista não é a mesma coisa que um médico sem especialidade. Um médico de medicina geral é uma mais-valia para os doentes”, em relação ao médico sem especialidade.
“Se quiserem promover os médicos sem especialidade, então há que os integrar em equipas, como internos da especialidade, para virem a ser especialistas, e não colocá-los a fazer o trabalho dos especialistas, totalmente desintegrados e sozinhos. Isso não é possível”, alerta.
Pedro Nunes vai mais longe e refere que tal, “não faz sentido”, considerando a medida, “um grande recuo na qualidade do SNS”.
Para o médico, o caminho passa por “criar mecanismos de formação para os médicos sem especialidade”, para que venham a ser especialistas. “Sendo essa formação feita a trabalhar, já dão algumas respostas aos doentes, mas não a que darão quando forem efetivamente especialistas”, acrescenta.
Quanto ao futuro do SNS, Pedro Nunes diz-se “muito preocupado”, enquanto potencial utilizador do SNS.
“[a solução] Não é o seguro de saúde, que não substitui o SNS. Poderá ser um conforto, os hospitais privados, podem ser muito bons, mas não fazem o mesmo que Serviço Nacional de Saúde. Portanto, todos temos, em Portugal, que lutar para que o SNS nos responda quando for necessário”, conclui.
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