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Incêndios. Xavier Viegas admite possibilidade de ter havido atrasos na retirada de pessoas em Murça

20 jul, 2022 - 05:32 • Marisa Gonçalves, André Rodrigues

O especialista em incêndios florestais compara com os incêndios de Pedrógão Grande e alerta para a necessidade de acautelar a segurança das populações. O fogo de Murça fez dois mortos.

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O incêndio que teve início no domingo em Murça, distrito de Vila Real, é aquele que mobiliza o maior número de meios da Proteção Civil, ao início desta quarta-feira.

As chamas já fizeram duas vítimas mortais, na passada segunda-feira. Trata-se de um casal de idosos que estaria a fugir das chamas. O carro em que seguiam despistou-se e caiu por uma ravina. As causas do acidente estão a ser apuradas, de acordo com a Proteção Civil.

Na análise de Domingos Xavier Viegas, coordenador do Centro de Estudos de Incêndios Florestais da Universidade de Coimbra, pode ter havido um atraso na retirada atempada das pessoas da linha de fogo.

“Tanto quanto me apercebi, com a avaliação que faço e com os elementos que recolhi no terreno, foi talvez por um atraso na retirada destas pessoas, que já saíram da aldeia muito perto da aproximação do incêndio. Isso é realmente algo a evitar porque já em 2017, em Pedrógão, verificámos que a fuga das pessoas, com o incêndio por perto, não foi uma boa decisão e temos de o evitar para situações futuras”, aponta Viegas, em entrevista à Renascença, já depois de ter visitado o local.

O perito esteve na coordenação dos estudos pedidos pelo Governo sobre os incêndios trágicos de 2017.

Portugal continental vai permanecer em situação de alerta até quinta-feira, devido ao risco de incêndio, conforme anunciou o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro.

Domingos Xavier Viegas concorda com a manutenção do estado de alerta. No entanto, faz notar que a humidade dos terrenos, nesta ocasião, está mais baixa do que o normal, defendendo ser este um fator a ter em conta pelas autoridades.

“Os valores que temos medido para este período do ano são inferiores aos de 2017. Falo da vegetação arbustiva, cujo valor da humidade varia lentamente e está muito baixo para o que é normal. Se a quantidade de água que tem for abaixo de 10% o risco de incêndio é elevado. Se for abaixo de 5% ou 7% o risco é extremo. Ora, o que temos nestes dias são valores na ordem dos 3% a 4%, o que é realmente muito baixo”, exemplifica.

O especialista volta a alertar para a necessidade de realizar ações de limpeza dos terrenos, no âmbito da prevenção dos incêndios.

“Sabendo nós que o país é fustigado por incêndios, continuamos a não cuidar da gestão dos combustíveis nem da limpeza à volta das casas. Nestes dias, vemos também zonas industriais que continuam expostas ao risco de incêndio, como se ele não existisse, e isso não é aceitável”, avisa.

De acordo com os dados provisórios do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), os incêndios florestais deste ano já consumiram perto de 56 mil hectares. O valor ultrapassa a maior área ardida desde 2017.

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