05 ago, 2022 - 18:50 • Isabel Pacheco
Há famílias, em Braga, que estão a dividir um apartamento ou a arrendarem, mesmo, um quarto, revela à Renascença o presidente da Cáritas de Braga, João Nogueira, que diz que esta é uma prática cada vez mais recorrente.
“Há famílias inteiras a viver num quarto. Isso é um facto. Em Braga a situação começa a ser preocupante”, admite o responsável pela Instituição de Solidariedade da Igreja que dá o exemplo de uma família monoparental com rendimento de 700 euros. “Como vai arrendar um apartamento por 500?”, questiona. “As famílias são empurradas para estas situações”, lamenta.
Em causa, explica João Nogueira, estão os valores “exagerados” do mercado de arrendamento e a precariedade laboral. Uma situação que, com a subida dos juros na habitação, pode vir a “agravar ainda mais” nos próximos tempos, receia João Nogueira.
“Estamos a falar de despejos e de famílias que vão ser obrigadas a viverem com outras famílias de forma a encontrarem soluções de compromisso compatíveis com os vencimentos”, antecipa.
No Porto, a realidade não é diferente. À Renascença, o padre Jardim Moreira, da secção portuguesa da Rede Europeia Anti-Pobreza, relata que são cada vez mais as situações em que os filhos optam por regressar a casa dos pais. “Começa a ser normal este tipo de vida”, diz.
“Aqui no Porto, no centro histórico, é impensável uma pessoa com um vencimento de 600 euros ter uma casa, porque custa 600 a 700 euros” conta o sacerdote. “Tenho casos concretos: um casal com um filho e uma neta que está a suportar tudo porque não tem para onde ir. Há outro caso em que os filhos se divorciaram e voltaram para casa dos pais e, então, fica sobrelotado”, descreve.
Segundo o Instituto Nacional de Estatística, 10,6 % dos portugueses vivia, em 2021, em condições de insuficiência do espaço habitacional, o valor mais alto nos últimos três anos.
A conclusão do inquérito às condições de vida e rendimento do INE não surpreende Romão Lavadinho.
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Em declarações à Renascença, o presidente da Associação de Inquilinos Lisbonense acredita que o número de famílias a residir em casas sobrelotadas seja superior.
“É um número muito insignificante para aquilo que penso que seja a realidade”, defende Romão Lavadinho que lembra que, em Lisboa “não há rendas mais baixas do que os 800 euros. Isto, para um T1”, ressalva Romão Lavadinho que reconhece ser “um exagero”.
O presidente da Associação de Inquilinos Lisbonense pede, por isso, o aumento da oferta de imóveis públicos para arrendamento e a rápida regulamentação da lei de bases da habitação.
“O Governo tem de pôr em prática e regulamentar a lei de bases da habilitação e colocar mais casas no mercado de arrendamento”, pede o responsável que lembra que o património público, “nesta altura, é só de 2%”. Aliás, o Governo disse que ia passar para 5% até 2024, mas acreditamos que não vai chegar”, remata.
A Área Metropolitana de Lisboa, a par com o Norte e Centro do país, são as regiões onde se regista o maior aumento da proporção de pessoas a viverem em condição de sobrelotação.
Algarve e Açores são as exceções.