10 ago, 2022 - 19:02 • Pedro Mesquita , Rosário Silva
A Polícia de Segurança Pública (PSP) confirma a existência de adeptos portugueses na claque do clube de futebol croata Hadjuk Split que, na noite de terça-feira, arremessou cadeiras e tochas no centro histórico de Guimarães, distrito de Braga.
Contudo, em declarações à Renascença, o porta-voz da direção nacional da PSP não confirma se esses adeptos estão ligados à claque benfiquista “No Name Boys”, apesar de ser uma informação que está a ser levada em conta.
“Havia cidadãos portugueses na claque, isso posso confirmar”, refere Nuno Carocha. Sobre a ligação aos “No Name Boys”, o intendente adianta que “estamos a utilizar essa informação para desenvolver a nossa investigação, mas não posso ir mais longe”.
Nestas declarações, o mesmo responsável voltou a garantir que o dispositivo disponível por ocasião dos acontecimentos era “o adequado à situação”, e que “teve capacidade de reação”.
“Não nos podemos esquecer que a polícia foi informada de imediato por diversos cidadãos, a quem, desde já, agradecemos a comunicação, e houve uma pronta reação policial”, sublinha.
“Fomos ao encontro desses adeptos, conseguimos abordá-los, identificámos 122 pessoas, não há registo de feridos. Houve um ato de exibicionismo por parte destes adeptos no centro de Guimarães, mas houve capacidade da polícia em reagir”, insiste o intendente Nuno Carocha.
Após os acontecimentos, o Comando Distrital de Braga da PSP confirmou ter recebido queixas sobre "aproximadamente 100 indivíduos" a "causar distúrbios", incluindo "arremesso de mobiliário de esplanadas e deflagração de artefactos pirotécnicos" por volta das 22h30 de terça-feira.
Os adeptos abandonaram, de seguida, Guimarães em cinco autocarros com destino ao Porto.
"Após estarem reunidas todas as condições de segurança", a PSP abordou os autocarros e identificou 122 cidadãos croatas, 23 portugueses e nove adeptos de outras nacionalidades, tendo ainda apreendido "um pote de fumo, uma soqueira e um passa-montanhas".
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Em comunicado, o gabinete de José Luís Carneiro fa(...)
Depois do presidente da Câmara Municipal de Guimarães ter criticado uma alegada "falha de segurança" da PSP, também Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP) questiona a alegada falta de efetivos no local.
“A informação que nós temos é que estariam dois elementos no carro patrulha e uma equipa de intervenção rápida, com cerca de três, quatro elementos”, começa por referir, Paulo Santos.
Em declarações à Renascença, o presidente da ASPP considera que esse alegado número “não deveria ser o habitual, em caso de jogos de risco”, porém a informação que dispõe, dá conta que o “efetivo que estava nesse dia de serviço, corresponde ao efetivo de serviço, como se tratasse de um dia normal”.
Tendo em conta outras situações de risco já vividas e bem conhecidas, Paulo Santos considera que “era importante ter havido aqui um reforço”.
“Com as informações que temos”, prossegue, “algo deve ter-se passado e era importante haver um esclarecimento cabal, por parte da direção da PSP, para saber aquilo que falhou”.
Já sobre o número de efetivos de serviço, questionado pela Renascença, o intendente Nuno Carocha disse não “posso confirmar o número de policias envolvidos no sistema de segurança”, realçando, contudo, que se tratou de “um efetivo que foi ponderado e planeado para a circunstância excecional de estarem na cidade muitas pessoas, adeptos estrangeiros, que pretendem assistir ao evento”, desta quarta-feira.
A possibilidade de uma claque ligada a um clube português poder estar envolvida nos confrontos, não surpreende o antropólogo Daniel Seabra.
“Não fiquei surpreendido, porque este grupo de adeptos que apoia o Hadjuk Split, já uma longa tradição de envolvimento neste tipo de situações. É importante sublinhar que em 1990, os primeiros sinais de fratura na antiga Jugoslávia, entre a Sérvia e a Croácia, ocorreram, precisamente, em estádios de futebol”, começa por contextualizar quem, há muito, se dedica a estudar o fenómeno das claques”.
“Em março há um jogo entre o Estrela Vermelha da Sérvia, de Belgrado, com o Dinamo Zagreb da Croácia e, já aí, houve seriíssimos e graves confrontos”, recorda.
“Outro sinal”, prossegue, “ocorreu em setembro, precisamente com o Hadjuk Splite e o Partizan de Belgrado, portanto, há uma tradição, neste contexto, de práticas violentas”.
Sobre a alegada participação dos “No Name Boys” nestes confrontos, em Guimarães, e uma eventual relação de amizade com o clube croata, Daniel Seabra desconhece se existe alguma ligação na atualidade, como já aconteceu no passado.
“Outrora, sobretudo na década de 90, aquando da morte de um membro muito destacado na claque benfiquista “No Name Boys”, precisamente no regresso de um jogo entre o Hadjuk Split e o Benfica, por motivo de acidente rodoviário, sei que se estabeleceu uma ligação de amizade entre ambos”, conta à Renascença.
Uma ligação que “perdurou durante algum tempo”, embora, “neste momento, não tenho dados que possam confirmar se essa ligação ainda permanece”.
De qualquer forma, “a existir”, indica, “não será surpreendente, pois é uma prática comum entre claques a nível internacional. Existe essa rede de amizades, mas também de inimizades. Quando uma claque visita outro país, é habitual verificar-se uma junção de grupos e isso já aconteceu em Portugal, noutros contextos, por exemplo, com claques italianas”, acrescenta o antropólogo.