10 ago, 2022 - 16:44 • Lusa
Todos os 14 médicos do serviço de urgência geral do Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, distrito de Lisboa, apresentaram escusas de responsabilidade devido à “escassez permanente de recursos humanos”, anunciou esta quarta-feira o Sindicato Independente dos Médicos (SIM).
“Isto insere-se no problema global que temos vivido nos últimos tempos, que é o número insuficiente de médicos escalados para a urgência face ao número de utentes que a ela recorrem. Agora, estes colegas, que são 14, manifestaram a sua indisponibilidade para salvaguardar os doentes desta situação, ou seja, não vão compactuar com este tipo de atendimento, que é nitidamente insuficiente para a população que recorre ao hospital”, afirmou Maria João Tiago, secretária regional de Lisboa e Vale do Tejo do SIM.
Em declarações à agência Lusa, a representante do sindicato disse que os documentos de escusas de responsabilidade de todos os elementos pertencentes à equipa do serviço de urgência geral do Hospital Beatriz Ângelo foram apresentados na última semana de junho e mantêm-se com efeito até que a situação de falta de recursos humanos seja resolvida.
“Até quando? Não sabemos. Este tipo de documento é apresentado sempre que se verifica um número insuficiente de médicos escalados para aquele dia e para aquela urgência, por isso há de vigorar enquanto não for restabelecido o número de elementos suficientes”, disse a secretária regional de Lisboa e Vale do Tejo do SIM, explicando que como as escalas estão a ser feitas quase que diariamente “é muito imprevisível” prever a duração da situação de escusas de responsabilidade por parte dos médicos.
Maria João Tiago reforçou que a situação se manifesta “até estarem reunidas as condições mínimas de segurança para atender os doentes”, pelo que vai vigorar enquanto o número de médicos for insuficiente, sem adiantar qual o número de profissionais em falta.
A resposta não é simples e os especialistas divide(...)
Neste âmbito, os 14 médicos do serviço de urgência geral do Hospital Beatriz Ângelo estão “indisponíveis” para atender os doentes nestas condições, que consideram de “insegurança” e que não salvaguardam os doentes, indicou a representante do sindicato, adiantando que, nestas circunstâncias, “muitas vezes é acionado o CODU [Centro de Orientação de Doentes Urgentes], que desvia os doentes para outros hospitais”.
“Nesse período, sempre que vigora um número insuficiente de elementos na escala médica, o CODU não leva para lá doentes”, explicou Maria João Tiago.
A secretária regional de Lisboa e Vale do Tejo do SIM disse ainda: “Isto é tão frequente que eu acho que é quase melhor dizer quando é que esta situação não se verifica nestes últimos tempos, como temos tido conhecimento: é o Beatriz Ângelo, é o Garcia de Orta, é o São Francisco Xavier, isto é a mesma situação em todo o lado”.
“Os chefes de equipa põem sempre esta escusa de responsabilidade, isto, no fundo, é um alerta para se proteger os doentes”, referiu a representante do sindicato dos médicos, acrescentando que o problema de falta de recursos humanos só se resolverá quando o Ministério da Saúde se prontificar a negociar as grelhas salariais, para que se torne mais atrativo permanecer no Serviço Nacional de Saúde.
A Lusa questionou o Hospital Beatriz Ângelo sobre o impacto da apresentação de escusas de responsabilidade por parte de todos os elementos da equipa do serviço de urgência geral, aguardando ainda uma resposta.
Em comunicado, o SIM informou que a posição dos 14 médicos está relacionada com “as condições progressivamente mais inóspitas e a escassez permanente de recursos humanos sem plano ou perspetiva de melhoria da direção de serviço ou administração”, revelando que, do concurso aberto para recém-especialistas, “apenas uma vaga foi preenchida em Medicina Interna - por formando da instituição, mantendo-se a carência atual”, quer no internamento quer no serviço de urgência geral.