12 ago, 2022 - 17:52 • Pedro Mesquita com Redação
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O incêndio na Serra da Estrela já lavra desde sábado e surgem cada vez mais críticas em relação à ação da Proteção Civil. Mas afinal, há falhas, ou não, no combate às chamas?
A Renascença procurou a resposta junto de dois especialistas, mas as opiniões divergem. Há quem aponte falhas e há quem sustente que a estratégia de combate ao incendio da Serra da Estrela tem sido globalmente correta.
Quem aponta falhas é o diretor de comunicação da AsproCivil, a Associação Portuguesa de Técnicos de Segurança e Proteção Civil. Jorge Carvalho da Silva diz que este incêndio, pelas características da serra, exige muitos mais meios aéreos, e que tem havido "alguns erros de casting".
"Há alguns erros de 'casting' com meios aéres, como paragens por falta de combustível durante tempos intermináveis, inspeções a meio do combate quando deveriam ter sido feitas antes da época dos incêndios. Tudo isto atrasa. Se tivermos um carrossel bom de meios áereos a acalmar as chamas, é mais fácil o bombeiro travar uma chama que chega curta", começa por dizer.
Jorge Carvalho da Silva diz que, pela topografia do território, é um incêndio que exige mais meios aéreos: "É uma serra com uma densidade florestal imensa, não há zonas de descontinuidade para colocar meios pedestres. É preciso ver de outra forma, porque são precisos muitos mais meios aéreos".
Neste quadro, duvida que nas próximas horas seja possível extinguir este incêndio: "Tenho muitas dúvidas, pela forma como o calor e o vento está a empurrar o fogo. Podemos ver bombeiros com carros estacionados em pasto com um metro e meio de altura. É tentar travá-lo quando descer alguma encosta, ou uma frente mais calma e pedir ajuda divina quase, ou que comece a chover".
Dois dos cinco bombeiros feridos ontem no combate (...)
Por outro lado, Miguel Almeida, investigador sénior do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais, discorda com os críticos.
"Numa operação que envolve bem mais de 1500 homens, é normal que existam pontualmente falhas. Mas do ponto de vista geral, não partilho da opinião das pessoas que dizem que há falta de coordenação", diz.
O especialista destaca as principais dificuldades no combate às chamas.
"O incêndio começou com grande velocidade de propagação que dificultou o ataque inicial. Os meios tinham necessidade de chegar à frente, mas no terreno percebi que há muito poucos acessos. É uma topografia muito acidentada, com humidade extremamente baixa, juntando a um vento de tarde que complica", afirma à Renascença.
Na noite de quinta-feira, o presidente da Câmara Municipal da Guarda descreveu à Renascença o agravar de uma situação "dantesca" e reporta descoordenação dos meios no local.
"Isto não é normal. Passamos em várias frentes e não vemos pessoas, só quando as chamas se aproximam das casas. Já vi desarticulação de meios no local, é só por a mão na consciencia. Há muita temperatura, muito declive, muita intensidade do vento, mas afinal o que se passa? Pedimos meios e máquinas, mas chegam a tarde e a más horas e quando aparecem demoram horas a serem entregue uma missão às pessoas. E já reportei à tutela", atira.
Incêndio na Serra da Estrela
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O incêndio que deflagrou no sábado no concelho da Covilhã e alastrou para Manteigas, Gouveia, Guarda e Celorico da Beira era combatido por quase 1.700 operacionais, sendo o único ativo em Portugal continental de grandes dimensões.
Com início na madrugada de sábado nos concelhos da Covilhã (distrito de Castelo Branco) e de Manteigas, o fogo atingiu na tarde de quarta-feira também Gouveia e Guarda e passou hoje, a meio da manhã, para o concelho de Celorico da Beira.
O capotamento de uma viatura dos bombeiros de Loures na zona de Celorico da Beira (Guarda), durante o combate ao incêndio, provocou hoje três feridos graves e dois ligeiros, segundo a Proteção Civil.