23 ago, 2022 - 14:37 • Ana Carrilho , Rosário Silva
O bastonário da Ordem dos Médicos (OM) revelou esta terça-feira que todos os médicos internos de Ginecologia e Obstetrícia do Serviço Nacional de Saúde (SNS) já ultrapassaram as 150 horas anuais de trabalho extraordinário.
Miguel Guimarães esteve reunido hoje com médicos internos de Ginecologia e Obstetrícia, para discutir e analisar a crise atual enfrentada pela especialidade, cujos profissionais apontam a falta de condições de trabalho e formativas.
De acordo com o bastonário, estão nesta situação os “258 especialistas” desta área especifica num universo “de 10.700 médicos internos do país”.
Bastonário
Esta terça-feira há, pelo menos, cinco hospitais c(...)
No final do encontro de trabalho, onde estiveram 20 dos 110 médicos que escreveram uma carta aberta à ministra da Saúde, Miguel Guimarães contou que uma das especialistas presente lhe disse que no seu hospital já todos os internos tinham feito, até agora, “mais de 650 horas extraordinárias”.
O responsável teme que a situação venha piorar no decorrer do mês de setembro.
“É verdade que a urgência de Obstetrícia e Ginecologia está com problemas, não só em agosto, já tinha em julho, em junho, há alguns meses, e eu temo que, pelo facto de o Ministério da Saúde ainda não ter tomado decisões importantes nesta área, que setembro possa ser pior do que agosto e, se calhar, o resto do ano não corra assim tão bem”, afirmou aos jornalistas.
Os internos de Ginecologia e Obstetrícia continuam sem resposta ao pedido de reunião que fizeram à ministra Marta Temido, não tendo, sequer, recebido confirmação de que a carta aberta foi rececionada.
Tomada de posição tomada numa carta entregue esta (...)
No documento, os especialistas reiteram a “indisponibilidade de fazer mais de 150 horas extraordinárias por ano”, e colocaram minutas de escusa de responsabilidade quando consideraram “não estarem assegurados os mínimos adequados nas escalas de urgência”.
Miguel Guimarães mostra-se preocupado com este cenário, tanto mais que a forma de protesto dos médicos, traduz-se na sua saída do SNS.
“Os médicos em vez de estarem a protestar, a fazer manifestações ou a fazer greves, estão a sair do Serviço Nacional de Saúde. E, o facto de haver, neste momento, muitos médicos, especialistas com experiência e jovens especialistas a saírem do SNS, é o sinal de alerta mais forte que existe. Isto devia deixar toda a gente preocupada”, argumenta.
Entre outras preocupações, foi também destacada a formação dos
internos desta especialidade que, face a situação atual “está a ser posta em
causa”, uma vez que estes profissionais são “sistematicamente” chamados para
outros serviços, nomeadamente, para a urgência geral.
“Eles são constantemente ‘desviados’ para fazerem cada vez mais
serviço de urgência, seja o normal, mais as horas extraordinárias, o que
significa que a formação que têm que fazer sobre um conjunto de exames e
formação especifica, seja no âmbito da consulta externa ou até do bloco
operatório, são situações complexas, uma vez que chegam ao fim do internato sem
fazer a formação que realmente queriam fazer”, denúncia, o bastonário.
Em Portugal, a formação médica é, de resto, reconhecida como uma
das melhores da Europa, por isso, há cada vez mais vagas para o internato, mais
de duas mil por ano, segundo, Miguel Guimarães.
“Se fizermos as contas áquilo que é a capacidade formativa ‘per
capita’, Portugal está à frente da maior parte dos países europeus, mas a
verdade é que, depois, não conseguimos fixar os médicos no SNS”, lamenta.
Depois dos médicos internos, na próxima segunda-feira, o
responsável da OM, reúne com os profissionais da Medicina Interna.