08 ago, 2022 - 18:42 • Rafael Duarte
O elevado ritmo e volume de trabalho está a desgastar os enfermeiros que trabalham na urgência do Hospital de Faro. Nuno Manjua, dirigente regional do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, conta à Renascença que são 7.600 horas extraordinárias realizadas desde o início do ano.
"É humanamente impossível tão poucos enfermeiros poderem fazer o atendimento a uma média de 300 pessoas que ali acorrem diariamente. O grande problema é que não havendo condições de trabalho, há enfermeiros que estão a abandonar o centro hospitalar nos vários serviços", afirma Nuno Manjua.
Na urgência de Portimão saíram mais de 10 enfermeiros desde o início do ano e em Faro já saíram sete só no mês passado. Uma situação que se agrava porque boa parte são enfermeiros de referência.
"Alguém que está há 20 anos a trabalhar ganha exatamente o mesmo que alguém que sai da universidade e claro que leva a que os enfermeiros saiam. Não se substitui simplesmente um enfermeiro com 20 anos de experiência por alguém que sai agora da escola", diz Nuno Manjua.
Segundo o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, no balcão de atendimento e triagem, onde deveriam estar três enfermeiros, está apenas um. Para além disso, a urgência de Faro necessitaria, no mínimo, de 100 enfermeiros e tem apenas 75.
"Não podemos continuar a este ritmo e sobretudo quando não há um reconhecimento do seu trabalho. Estamos a ficar sem enfermeiros, mas nos cuidados de saúde primários também. No total há uma carência crónica de enfermeiros no Algarve, cerca de 500. Somos a região de saúde do país com menor número de enfermeiros", lamenta.
O Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) avançou com um incentivo onde oferecia o triplo aos profissionais que aceitassem adiar as férias de agosto e o Sindicato tem conhecimento de alguns profissionais que aceitaram.
No entanto, diz que é preciso muito mais e lamenta a falta de comunicação com o CHUA.
"Não reunimos com esta administração há mais de um ano, porque não agenda reuniões. É uma postura antidemocrática porque até hoje nunca houve uma administração que durante tanto tempo se recusasse a agendar uma reunião", lamenta Nuno Manjua. Nesse sentido, já pediram uma reunião com a ministra da Saúde.