29 ago, 2022 - 18:06 • Lusa
A Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública (ANMSP) alertou hoje para uma previsível menor capacidade de resposta do Serviço Nacional de Saúde no inverno, devido à recusa dos clínicos em realizarem horas extraordinárias além do legalmente previsto.
"No período do fim do ano, que é exatamente o início do inverno, haverá menos disponibilidade por parte de colegas para fazerem horas extraordinárias de atendimento aos utentes para além daquelas a que estão legalmente obrigados", adiantou à Lusa o presidente da ANMSP.
Segundo Gustavo Tato Borges, normalmente o período de maior dificuldade em gerir horários e escalas é no verão, devido às férias dos profissionais de saúde, mas o final deste ano pode registar uma "outra condicionante" que é a indisponibilidade em cumprir trabalho extraordinário para além das 150 horas anuais.
Esta recusa "deriva do esforço grande que foi pedido" durante os mais de dois anos da pandemia de covid-19, adiantou o médico, ao sublinhar que existem "múltiplos profissionais de saúde, não só médicos, mas também enfermeiros e outros técnicos, que estão a recusar-se a fazer mais do que estas horas extraordinárias".
"Não há falta de médicos, há falta de médicos a su(...)
"É possível que, em termos de recursos humanos no inverno, nós tenhamos menor capacidade de resposta do que tivemos nos últimos anos, em que os colegas nunca se recusaram a fazer horas extraordinárias porque sentiam que era a sua missão e agora, um bocado desapontados e sem acreditar muito que alguma coisa vai mudar de concreto, acabam por colocar essa recusa", referiu Gustavo Tato Borges.
Além disso, tendo em conta que no inverno aumenta a circulação de vírus respiratórios, "muitos profissionais de saúde até podem faltar ao trabalho não necessariamente por estarem doentes, mas porque os seus familiares diretos estão doentes e precisam de acompanhamento", referiu o médico de saúde pública.
"Este é mais um fator que pode vir a condicionar a disponibilidade dos profissionais", alertou o presidente da ANMSP, ao considerar que, nos centros de saúde, "há ainda capacidade" para garantir a próxima vacinação da covid-19 "sem um dano concreto no atendimento dos utentes".
Para Gustavo Tato Borges, o Governo "ainda vai a tempo de conseguir pelo menos minimizar o possível impacto" das limitações de recursos humanos no Serviço Nacional de Saúde (SNS) no inverno, através da contratação de mais profissionais de saúde.
Ginecologia e Obstetrícia
Solidários com os médicos internos, os especialist(...)
"Nós sabemos que há enfermeiros disponíveis para contratar, mas médicos é um pouco mais difícil, porque os que estão fora do SNS estarão a trabalhar em locais que lhes são mais vantajosos", referiu, adiantando que uma das soluções poderia passar pela agilização do cumprimento de escalas, organizando as urgências, de modo a que ficassem concentradas em unidades municipais, como acontece com a psiquiatria.
Além disso, a criação da especialidade de emergência, com a respetiva carreira médica, poderia resultar em "mais médicos dedicados a esta área e mais disponíveis para fazer serviços de urgência, que são penosos", disse o presidente da associação.
"Há várias soluções, umas mais fácies de implementar para serem usadas agora já neste inverno, e outras que têm de ser pensadas e estruturadas", e que passam pela melhoria das condições salariais e de trabalho e dos recursos tecnológicos, salientou Gustavo Tato Borges.